Assim, ele segue pela avenida Rodrigues Alves, agora mais clara, sem a perimetral que tapava o céu e a luz. Ainda passa por velhos armazéns portuários e prédios abandonados há muito tempo.
Então, ele entra no Porto Maravilha e fica deslumbrado com as obras de arte por todos os lados. Canteiros de flores ornamentando tudo enquanto famílias e pessoas solitárias passeiam, correm ou ficam simplesmente sentadas. O museu do Amanhã, parecendo um grande dragão saído do mar, surge a sua frente. E o mar, as grandes águas que o acompanharão o tempo todo.
Diante da grande praça o ciclista olha para um e outro lado. Mas o bom caminho fica junto a muralha que escora o mar e passa junto ao Ministério da Marinha. Um caminho feito de tábuas como um deck de piscina o leve pedalando sobre as ondas e o deixa na praça XV. À sua direita a Igreja da Candelária e a casa de exposições França-Brasil. Ele teve de parar e filmar esse bela escultura móvel que parece um misterioso pavão.
Em frente as barcas o chafariz do Mestre Valentim e o Passo Imperial sempre com alguma exposição. Em cartaz A Lama, ensaio fotográfico sobre a catástrofe de Mariana. Não levei cadeado e o porteiro não me deixou entrar no pátio com a bicicleta. Um raro preconceito para com a bike, no Rio.
Entrou na barca e lendo o e-book Coma atravessou a baia de Guanabara. Ao sair do terminal das barcas em Niterói não pode deixar de ver a estátua do índio Araribóia. Daí, à direita, pegou a ciclo-faixa que vai margeando a baia. Passou por São Domingos e seu casario de 1800 e tanto, pela fortaleza de Gragoatá e chegou a praia da Boa Viagem. Lá adiante o MAC, Museu de Arte Contemporânea, obra de Oscar Niemeyer, aparece no alto como um disco voador prestes a levantar voo.
Perguntou a recepcionista quanto era a entrada e ela respondeu bem assim: Para quem chega de bicicleta não custa nada.
Não era pela idade era por ele ser ciclista!
Deixou a bike e subiu a rampa. Um visual maravilhoso do Pão de Açúcar, da ilha da Boa Viagem, das pequenas ilhas da entrada da baia de Guanabara.
Lá dentro a surpresa, um exposição visual como nunca tinha visto. Ao invés de quadros pintados ou fotografias, as molduras mostravam vídeos. Cada tela era a mesma história vista de ângulos diferentes. Os visitantes podem ficar sentados, mas geralmente andam para ver as telas que ficam em posições desencontradas. Era uma história de pescadores japoneses mortos num naufrágio e a deusa do mar que os procura. O artista que criou mais esta forma para impressionar nossa mente tão sobrecarregada de coisas fúteis foi Isaac Julien.