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sexta-feira, março 28, 2008

Trilha em Lima Duarte
Todo ser humano tem o desejo de ser o primeiro. Nos tempos antigos primogenitura significava ser herdeiro de quase tudo que o pai possuia. Ser o primeiro filho era uma sorte grande. Quando o patriarca Isaque partiu sua herança entre os dois filhos gêmeos, Esau e Jacó, e deu ao segundo a maior parte de seus bens ao invés de ao primogênito começou toda confusão entre árabes e judeus que dura até hoje. Conhece a história? A Bíblia, que também é um livro do povo judeu, conta que Jacó comprou a primogenitura de seu irmão com um prato de lentilha e depois, quando o velho Isaque, já cego, estava a morte, Jacó enganou o pai e recebeu o que era de seu irmão. Mas indagará você e com razão: o que é que esta história toda tem a ver com a trilha em Lima Duarte? Deixe eu começar do início. Fui a Ibitipóca por caminhos tortos. Como levei Dona Lili, a patroa, fui de carro direto à Lima Duarte passando por Bom Jardim.

Entrei na Pousada Arco-Iris, na noite de 5ª feira. Na sexta-feira santa, depois de um delicioso café da manhã colonial, vesti o uniforme e saí procurando uma trilha, no mesmo instante em que a turma suava subindo de Taboão para Olaria. Pedalando por ali soube por um senhor que a turma do pedal desta bela cidade mineira faz uma trilha muito bonita que começa na igrejinha do bairro Manejo e segue subindo um morrão tipo Mutuca, enveredei por ela suando para chegar em tempo para o almoço com a patroa.

Depois de passar numa plantação de eucaliptos sai numa trilha de boi. Aí é que tem a ver o negócio de ser o primeiro. Até aquele ponto andei por uma estrada de chão, mas então começou uma descida muito inclinada quase por dentro do mato. Dava a impressão que não tinha passado ninguém por ali antes. Então a gente sente duas emoções: a de estar desbravando um pedacinho virgem do planeta Terra, o que dá uma euforia boa, e a de que estou andando por um lugar em que não mora niguém, que estou por minha conta e risco, o que dá um aperto na boca do estômago.

Mas depois de uma porteira voltei a pegar um caminho batido e logo cheguei a uma lage de pedra onde o riacho corria por cima fazendo um marulho muito tranquilizante. Mas não dava para curtir o lugar porque o tempo urgia e minha barriga começava a rugir de fome. Num instante entrava em Lima Duarte e, olhando para a direita, vi uma serra muito bonita e já fiquei imaginando um jeito de subir lá, mas ainda tinha de subir para Ibitipoca no sábado de Aleluia. E fui, até contei a história aí na frente.

quarta-feira, março 26, 2008


Subindo Ibitipoca
Neste domingo, 23/03/2008, andando de bike com João Bosco do acampamento em Conceição de Ibitipoca até a entrada do Parque Estadual conversávamos sobre o choque de obrigações que enfrentam muitos praticantes do mountainbike: conciliar o prazer de pedalar pelas estradas com o tempo dedicado a esposa. E foi exatamente isto que me obrigou a fazer um monte de arranjos para chegar lá no alto da serra, em Ibitipoca. Precisava levar Lili comigo. Resolvi ir até Ibitipoca parte d caminho de carro e parte de bike. Sai de casa na 5ª feira da semana santa levando presa à traseira do carro a minha bike.

Planejei sair de manhã e almoçar em Santa Rita do Jacutinga. Gosto muito daquela comida de fogão à lenha e queria que Lili provasse dela também. Ao mesmo tempo esperava encontrar alguns colegas do pedal que tinham saído cedo na grande aventura de Ibitipoca. Não vi ninguém e já sendo tarde passeamos pela cidade.

Pouca coisa pra ver ali no centro, mas tiramos belas fotos no pátio da igreja. Malu, que foi com a gente, nos acompanhava por toda parte.

Intencionava que Lili dirigisse pra mim na subida do Pacau enquanto eu pedalava naquela estrada desafiadora. Porém, com o horário completamente defasado desisti da idéia e passei correndo pela entrada de Itaboca que o pessoal ia pegar no dia seguinte. A escuridão chegou antes de entrarmos em Bom Jardim de Minas. A bicicleta continuava presa ao bagageiro do carro. Meu plano era dormir ali, mas decidi continuar a viagem e chegar logo em Lima Duarte.

Na 6ª feira, depois de um lauto café colonial fiquei me comichando para dar uma pedalada, afinal, meus colegas naquela mesma hora deviam estar entrando no caminho de Itaboca. Convenci Lili a se distrair na pousada enquanto eu corria pelos caminhos de Minas Gerais. Dei sorte de encontrar um senhor que me indicou a trilha da Ponte Nova. Foi um caminho bonito, com uma subida poderosa e belas descidas no meio da mata. Vou contar esta aventura depois. A tarde, tentei falar pelo telefone com os colegas e não consegui. Depois fiquei sabendo que eles passaram por Lima Duarte bem na hora em que eu e Lili fazíamos turismo numa cidade que estava com todas as lojas fechadas por causa do feriado. Mas sempre se descobre o que fazer e até assistimos um pouco da procissão.

Sábado chegou. Havia combinado com Lili que ia sair cedo, pedalar até o alto de Ibitipoca e voltar antes de terminar o almoço na pousada. Sai 7 h com o dia amanhecendo e o nevoeiro cobrindo as baixadas onde corriam riachos alegres. Como era sábado de Aleluia fiz questão de tirar uma foto com o judas.

Chega de conversa porque já não tinha fôlego nenhum. Depois de correr subindo e descendo morros por 20km subi os 7 km da serra bufando. Havia uns trechos que não consegui fazer montado. Mas o tempo urgia e em menos de uma hora via o mundo lá embaixo.

Quando entrei no arraial de Conceição de Ibitipoca olhava pra todo mundo que enchia a rua estreita, era só garotada que já começava o dia bebendo. Mas, de repente, vejo Dunga e Marcinho com outros dois colegas. Foi uma grande alegria. O companheirismo que fazemos entre os ciclistas é uma coisa bonita de se ver.

Deixei-os tomando café e corri para o acampamento onde encontrei todos aqueles rostos felizes: Reginaldo, Zoreia, João Bosco, Manoel, Eduardo, Naldo e outros mais.
Zorei, sempre brincalhão não foi pedalando, mas disse ter sido um fiel guardião das esposas e filhas dos colegas que foram de van.

Daí, fui com João ver Rafael, Márcio e outros que entravam no parque para passear e, depois de me despedir da turma, voltei correndo para Lima Duarte.

Assim, pisando nos cascos, consegui agradar a esposa e subir a serra de Ibitipoca. Assim é a vida. Há que se saber viver para cumprir bem a empreitada que assumimos. Não se pode agradar só a gente se vivemos com outro.

segunda-feira, março 17, 2008


Depois de ligar duas vezes para João Bosco pensei que ia pedalar sozinho neste domingo, 16/03/2008. Chuviscava ainda durante o amanhecer e só um maluco ia sair pedalando num tempo deste. Mas um Sol desanimado apareceu no céu carregado, me enchi de brios, vesti o uniforme e sai com a bike. Decidi andar pelo asfalto fugindo das estradas embarreadas. Meu destino me levou em direção ao bairro de Santa cruz onde mora João e arrisquei a ligar pela terceira vez para ele. Desta feita a resposta foi positiva e saímos em direção a Santa Izabel do Rio Preto com a intenção de almoçar no bar da D. Marilza. Subimos a Mutuca cheios de disposição.

No ano passado andamos por ali com a terra seca da invernada, agora tudo era verde e riachos corriam onde nunca vimos cascatas, enquanto o marulhar de água correndo enchia nossos ouvidos. Por outro lado a terra dos barrancos não agüentava tanta umidade e em vários trechos vieram a baixo quase cobrindo a estrada.

Pedalar com João Bosco também é um exercício filosófico. Conversamos muito sobre a lei da atração, pensamento que hoje enche as mentes mais ilustradas. Tudo muda neste mundo – ontem não estava tudo ressecado e agora não está tudo encharcado? Pois é, então desde São Judas Tadeu que inventou o conceito de “ver para crer” e que permeou o pensamento materialista e o religioso durante dois séculos, agora se chegou a nova conclusão, ao paradigma quântico: “crer para ver”. E toda esta sábia conversa discorria enquanto passávamos por fazendas e ao longo de verdejantes pastos.

Neste prozeado entramos em Santa Izabel do Rio Preto sem cair um pingo de chuva sequer em cima dos nossos uniformes. Fomos direto pra mesa esperar a comida quentinha que a futura hoteleira preparava para nós. Ela perguntou: “o ovo frito é da roça ou de granja?”, ora, respondemos: “bem vermelhinho, de quintal”.

Depois de falar muito da próxima pedalada à Ibitipoca no feriado da Páscoa, do asfaltamento da descida da serra do Pacau de Bom Jardim de Minas até Santa Rita de Jacutinga e da promessa do deputado Nelson Gonçalves (que não é um político apegado ao povão, mas a elite - concluimos enquanto conversávamos) de asfaltar até a ponte da divisa dos estados e da pescaria ali bem em baixo do bar, no piscoso rio São Fernando, saímos de volta pra casa. Procuramos outros caminhos para conhecer em futuras pedaladas, em tempo mais firme. O céu baixo e pesado era segurado precariamente pelo amigo dos ciclistas malucos, São Pedro.

Foi um passeio curto, 90 km, mas muito bonito, pesado de sabedoria e de belezas da natureza, como este tucano que voou sobre nós e pousou um instante pra João tirar uma foto dele.

terça-feira, março 04, 2008


Somos regidos pelo relógio. É ele que marca a hora de acordamos, os compromissos assumidos e os momentos de diversão. Assim, foi por causa de um desacerto entre dois relógios que a pedalada deste domingo, 02/03/2008, me separou de amigos que havia convidado para subiros a serra da Bocaina, depois de Bananal. Saí do ponto de encontro às 6:10, quando na verdade estava adiantado 5 min. No final deu tudo certo como vou contar mais na frente. A pressa é que íamos encontrar o grupo de Barra Mansa que é rígido com os horários. Todo mundo perguntou pelo João Bosco que foi por outras trilhas.

O pessoal de Barra Mansa estava reunido no ponto de encontro e sem mais delongas saímos em direção a Bananal. Fizemos um tempo ótimo, e em pouco mais de uma hora estávamos fazendo lanche na pequena cidade turística. Começamos com 11 colegas, mas por compromissos dois deles voltaram dali. Então começamos a subida da serra.
Visual deslumbrante! As forças da natureza moldaram a Bocaina na forma de arco. A gente vai subindo e se vê cercado pelas montanhas por três lados, só a retaguarda permanece aberta com um panorama de tirar o fôlego. São 17 km de uma subida íngreme em curvas bem fechadas, mas com um asfalto muito bom. Conversava quase sem fôlego com um colega: "Há dois anos subi aqui com uma bicicleta pesada de quadro de ferro, com relação K7 e com equipamentos sem qualidade. Neste ponto estava pedindo pra morrer. Desta vez espero cumprir o trajeto mais inteiro já que meu corpo está mais preparado e a bike é bem equipada". Ledo engano.

Lá em cima, com as pernas trêmulas, entramos por uma bifurcação e a subida ficou mais difícil, o chão muito irregular coberto de pedras soltas. Tive de desmontar e empurrar. Numa fonte enquanto enchíamos o cantil com água geladinha e matávamos a sede o colega Alex fez uma comparação que me abriu a mente. “O Brasil já ganhou 5 campeonatos mundiais de futebol e participou de mais de 20. Será que o próxima Copa do Mundo vai ser mais fácil? Se nosso time for pra competição com este idéia, vamos perder. Sempre será um sacrifício. Assim é a subida da Bocaina, a gente pode estar mais bem preparado fisicamente e com uma bicicleta mais equipada, mas chegar lá em cima sempre será muito desgastante. Aí é que está a beleza da gente vir aqui, o desafio”. Alex falava estas palavras sábias enquanto me oferecia uma batata quente, no bom sentido. Ele cozinha batatas e leva embrulhada em papel alumínio. Depois, de um saquinho, asperge orégano em cima da batata, fica uma delícia. Bem lá pra frente, com um pouco de atraso, chegamos no ponto mais alto da trilha, o mundo estava lá em baixo. Eram 11:30, afinal fizemos a subida da Bocaina num tempo muito bom.

Quando chegamos nas cachoeiras foi só alegria. A água estava numa temperatura ótima. Um pouco fria, mas que só aliviava nosso corpo cansado. Com 7 bacias com profundidade que dá pra nadar, cada uma tem sua característica. Essa aqui é boa para relaxar e nadar.

Esta pedra é um tobogã formidável. Veja o vídeo no You Tube.



Nessa aqui a cortina d’água faz uma massagem nas costa da gente que é uma beleza.

Ficamos mais de uma hora brincando nas cachoeiras. Essa é a terceira queda.

Enquanto a turma descansava dei uma pedalada até a Estação Ecológica e visitei a última queda d’água em meio a bromélias, palmitos, samambaias e as imponentes araucárias. O clima no alto da serra é muito agradável e o ar não podia ser mais puro.

Então, corri atrás do pessoal que já tinha voltado e a descida é um downhill espetacular. Primeiro no caminho de pedras soltas em que tudo trepida e parece que os braços esticados da gente vão desmanchar, depois no asfalto em que a bike quase sai voando e a gente tem que estar ligado nas curvas e com os freios nas pontas dos dedos.

Em Bananal, na praça, descansando, esbarramos com o pessoal de Volta Redonda, de quem nos desencontramos por causa do relógio. Foi um encontro camarada em que pude contar minha experiência de subir até as 7 Quedas. Depois, já chegando em Barra Mansa, paramos para relaxar tomando uma cerveja dourada e geladinha. Ali, os amigos conversaram mil coisas emoldurados por um lindo pôr do sol.