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segunda-feira, novembro 30, 2015

O pior pedal de ZéAdal.

Todos concordaram: foi o pior pedal de ZéAdal. Esta foi a única unanimidade. Começou que uns foram de carro outros de bicicleta. 

Os que foram de carro uns os deixaram em Barra Mansa, outros em Getulândia e outros em Bananal. Na padaria era aquela cacofonia, falavam de tudo menos do pedal. Era melhor nem pensar nisso.

Iniciamos a subida forte da serra da Bocaina. A manhã estava encoberta e fresca, pelo menos nisso o pedal era satisfatório. Mas havia alguma coisa de mal nesta aventura. Um rapaz principiou a ter fortes dores no joelho e ficou pra trás. Um jovem, já no Km12, sentiu tonteira e estava muito pálido. 

Um velho sentiu fortes dores de barriga e teve que se aliviar numa casa abandonada da montanha. E aí o sol apareceu bruto e ardente fazendo todo mundo suar na subida que não acabava mais.

Pelo menos o banho gelado e o tobogã na cachoeira foi bom pra todo mundo. 

E chegamos na Estação Ecológica onde o lanche foi compartilhado porque não havia lugar pra almoçar, e já eram 13 horas. 

O tempo mudou de repente, como sucede normalmente ali naqueles altos. Demo-nos pressa e corremos pela estrada para Lídice que está bem marcada e linda. 

Moitas de hortênsias margeiam o caminho e parávamos para tirar fotos. 

Um nevoeiro forte veio do lado do mar e logo não víamos o companheiro que estava há 15m.

São Pedro principiou a arrumar os móveis. Roncos e trovões nos cercavam, e todo mundo pedalava forte. Pelo menos o caminho em meio a mata estava bom e mais descíamos do que subíamos. Aí a chuva caiu grossa encharcando todo mundo. Logo surgiram lamaçais, uns davam pra passar neles pedalando outros atolavam as bikes e os ciclistas. (foto de um dos colegas)

Os córregos que atravessam a estradinha logo estavam cheios e o pessoal aproveitava para tirar os quilos de barro das rodas. Alguém disse que para ficar pior só faltava cair granizo.

Era difícil subir pedalando no barro escorregadio e descer era ainda pior. 

As horas passavam. Finalmente a chuva deu uma trégua e chegamos ao rio do Braço onde atravessamos com as bikes nas costas. 

Eram 16 horas e tava todo mundo com fome. Aí surgiu um barzinho que atende quem vai tomar banho de rio num remanso. Por fim matamos a fome e a sede. 

A tarde caia e tinha colega que veio de Seropédica e não tinha ideia de quando ia chegar em casa. Mas enquanto pedalávamos víamos as belezas dos vales naquele alto de montanha.

E belas cachoeiras enchendo o mundo do som cavo de águas batendo em pedras.

Tornamos a montar e a chuva tornou a desabar. Mais lama e escorregões. Até que chegamos ao asfalto. Todo mundo saiu correndo debaixo de chuva, no escuro e com um trânsito terrível dos carros que vinham de Angra.
Arranjei uma carona para o amigo João Ademar e pedi que fosse buscar a caminhonete em Getulândia. Esperei aproveitando para tirar o barro das bicicletas numa valeta que virara um córrego. Esfriou e todos estavam molhados até os ossos. Depois de quase uma hora João voltou, colocamos as duas bikes na caçamba e tocamos de volta pra casa. Um grupo estava esperando em Rio Claro. Eram quatro. Apertamos as bikes na carroceria junto com dois ciclistas e fomos quatro na boleia. No trevo de Passa 3 outro colega aguardava, era noite e pedalar numa estrada cheia de veículos correndo e sem acostamento era um perigo. Subimos mais uma bike e na cabine para três agora iam cinco.


Finalmente terminou o pedal GRANDE VOLTA DA MONTANHA. Graças à Deus todos estavam bem, mas não há dúvida, foi o pior pedal do ZéAdal.        

segunda-feira, novembro 16, 2015

Um caminho conhecido e sem surpresas.

Entre as vertentes da serra há muitas veredas. 

São estradas, estradinhas, caminhos, trilhas e trilhos. As três primeiras são seguras, livres de veículos motorizados e sempre ligam uma sede de município a outra ou a algum arraial num distrito. 

Mas as duas últimas são traiçoeiras e andar ou pedalar nelas precisa ter como guia alguém que conhece, já passou mais de uma vez e tem boa memória. Foi por isso que nos perdemos ontem.

Era um sonho antigo de ZéAdal chegar à Ipiabas passando pelo velho túnel da estrada de ferro abandonada. Quase uma dezena de vezes pedalei pela serra de Ipiabas, mas não encontrava o momento certo de achar esta vereda. Ontem, 14/11/2015, cercado de quatro amigos aventureiros e com bastante informação pegada na internet, voltamos à serra.

Chegamos rapidamente em Dorândia, fizemos um lanche e tocamos por uma trilha chamada Avestruz. Toda serra, como uma rainha, nos obriga a passar antes por sua corte de morros, então subimos e subimos. Passamos a primeira vertente que sai no asfalto Barra-Ipiabas antes da serra e continuamos fazendo força nos pedais. 

Então, quando chegamos numa velha fazenda entramos pelo caminho que sempre quis conhecer.

Uma manada corria na nossa frente sujando o chão de bosta fresca que com o rolar dos pneus vinha parar na nossa cara ou nas costas da camisa. Afinal, chegamos ao lago que se vê bem pelo satélite do computador. 

Agora era que começava o problema. A gente estava de um lado de uma vertente e o caminho para o túnel ficava num vale do outro lado do morro. Tínhamos de vencer a alta colina, mas nem trilho de boi havia direito. 

Os colegas viram um caminho que margeava os morros seguindo um riacho. Já vira este filme: trilho em pé de morro e na beira de riacho vira sempre atoleiro e mato fechado. Seguimos na fé e não deu outra. Estávamos perdidos.


Um aventureiro não volta caminho, então seguimos vadeando rio, 

passando bambuzal, andando sobre leito seco de rio 

até achar um caminho que nos levasse para o outro lado. Achamos e aí foi subir muito até pegar a estradinha lá nos altos dos morros. 

Conseguimos! Então foi pedalar até a pedreira do Gavião 

e do túnel. 

Missão cumprida, como disse o amigo Ademar, fomos almoçar para voltar por um caminho conhecido e sem surpresas.     

segunda-feira, novembro 02, 2015

Todo povo brasileiro, menos os 5% petistas, sofre de alucinose.

Quem tem filha precisa levar em conta que fatalmente terá um genro, que até pode ser surfista e petista. Ô sina! 

Muito inteligente meu genro lê coisas e me manda, como quem leva celular para um presidiário. Desta vez foi Crise e Alucinose: Anticomunismo do Nada, do psicanalista e escritor Tales Ab’Sáber, tive de ler. 
De cara gostei dessa frase: “nossa saída da ditadura militar não implicou numa profunda democratização [acho que melhor teria sido ele dizer desconstrução] da mentalidade autoritária brasileira”. Isto aconteceu porque “a Lei de Anistia – situação concreta excêntrica do impedimento do direito da democracia de julgar a ditadura – foi o direito mais forte da ditadura de tutelar a democracia que renascia”. Quer dizere, não conseguimos sacudir de cima do lombo, até hoje, o domínio da ditadura. “Passados 26 anos o Brasil foi finalmente obrigado a instalar a tímida Comissão Nacional da Verdade sobre sua ditadura”. Só bati palmas, até aqui.
Tales faz uma grave denúncia sobre eu e você: “existe a sustentação de uma política corrente contra os direitos humanos no Brasil, ela é constante entre nós”. E diz de onde vem: “Ela se origina, em um nível histórico, na necessidade de legitimar a ação criminosa de agentes públicos”. E vem de mais longe: “na longuíssima tradição de concentração de poder dos trezentos anos coloniais de escravidão... o negativo de qualquer possibilidade de existência de direitos humanos para bandidos no Brasil”. Diz se não é verdade que a gente está se lixando para os desgraçados que matam pessoas por dinheiro? Até esse ponto continuei concordando com ele.
Então, Tales dá um salto-triplo-sem-rede e diz: “Ela tem correspondência com uma outra posição [do brasileiro], nas manifestações pelo impeachment da Presidente Dilma”.
 – Que que uma coisa tem a ver com a outra, Zé? 
Ele diz: “Esse discurso muito acentuado nas manifestações das ruas tem a ver com a ideia de que o governo petista, além de ladrões consumados e um câncer, transformaram o Brasil na Venezuela”.
– E não é isso mesmo, Zé? 
Tales dá um espetacular cavalo-de-pau: “Diante das distâncias impressionantes destas enunciações de alguma realidade das coisas políticas brasileiras...”. Penso – aliás é um consenso geral – que todo psicanalista não “bate bem”, Tales parece que mora no reino da Dinamarca e não lê o que se passa nesta província tupiniquim. Então, do alto de seu saber decreta que todo povo brasileiro, menos os 5% petistas que restam, sofre de “alucinose: uma distorção efetiva da capacidade de pensar fundada na necessidade de saturar a realidade com desejos que não suportam a frustração”. 
– Isso é profundo, Zé! 
Isso é merda-em-pó! O cara tá dizendo que o desejo meu e seu de ser governado por gente que ame o Brasil é uma vontade irreal que só vai nos levar a frustração. Aliás, nesse sentido – o de que nunca vamos colocar no governo um sujeito honesto que não queira se locupletar às nossas custas - temos mesmo um sonho irreal. Depois, Tales desfia as repetidas benesses que o petismo nos deu, algo nunca antes visto nestas plagas. 
Vou resumir o que penso do artigo de Tales, para ele e para meu genro: Petista quando não caga na entrada caga na saída.