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domingo, agosto 30, 2015

A bicicleta nos revela como somos fracos.

As serras guardam segredos.

Entre suas cristas, nos vales escondidos há coisas a ser descobertas. 

A serra do Matoso a qual subi hoje, 30/08/2015, tem muitas histórias. No século XVIII homens corajosos e aventureiros deixaram a proteção da Vila do Rio de Janeiro a beira do mar e atravessando os brejos da baixada subiram esta serra. Imagino o esforço de abrir caminho à facão e foice pela mata entrelaçada de cipós e arranha-gato. Cem anos depois, com o plantio bem sucedido do café as taperas deram lugar as casas de fazenda

 e o caminho foi calçado pelos escravos. 

Dá dó imaginar o esforço daqueles homens que vieram de outro continente para domar a natureza do Brasil.

Foi estes altos que subi fazendo força com pernas e pés no pedal e com os braços e mãos no guidom. Porque com a bicicleta você se alça a 1.500 m pela própria força e diferente de estar num carro com ar-refrigerado em que o homem se sente poderoso e fica soberbo, a bicicleta nos revela como somos fracos. 

Quanta força precisamos despender para vencer as serras.    





















quarta-feira, agosto 26, 2015

Ele é aquela terra fértil que Jesus falou.

Nunca deixe de estender a mão à uma pessoa. Fique atento a quem estiver próximo de você e fale com ele. Pois quando a gente faz isso acontecem milagres. Então vou falar de um.
(na foto, da esquerda pra direita: Zé, Dunga e João Bosco no Caminho de Glicério)

Um dia, ia pedalando para Santa Isabel do Rio Preto quando passei por um ciclista. Não fiquei sem falar com ele, muito pelo contrário, puxei conversa e o convidei para nos acompanhar. Ele aceitou o convite e foi com a gente por um trecho do percurso. Aí um coisa maravilhosa começou a acontecer. Ele voltou a nos encontrar e dessa vez fez todo o percurso. E voltou outras vezes. E o milagre foi ganhando proporções inexplicáveis. 
(lá está João Bosco parece vir andando do nada pra se juntar a gente)

Então, ele já não ficava satisfeito em pedalar um dia, queria mais, andava vários dias por esses caminhos do mundo. Tornou-se um líder, um exemplo para outros e, coisa rara entre nós humanos, tornou-se indispensável.


Hoje ele faz 71 anos e os amigos vão lembrar dele. E não são poucos, não. Com certeza virão mensagens de parabéns de muito longe. Tudo porque ele é aquela terra fértil que Jesus falou. Foi só jogar uma sementinha nela, fazer um convite pequeno e dele saiu uma árvore imensa, copada, que lança a sombra da amizade por onde passa. Pedalar com ele, conversando quase o tempo todo, faz o passeio ficar levinho, mesmo tendo enormes subidas. 
(esta foto resume bem o que é amizade, são pessoas que cabem dentro de um espaço geométrico)

Minha vida teve muitos dias felizes por causa desse amigo. O nome dele é João Bosco de Castro Reis, mas pode chama-lo de Invencível.    


















quarta-feira, agosto 19, 2015

Não se pode passar sem parar.

Quando se pedala por cidades de Minas, em especial nas do Ciclo do Ouro, não se pode passar sem parar. (entrando na cidade de Sabará com seus casarões e ruas calçadas com pedras pés-de-moleque)

É preciso prender a bike e entrar num casarão ou numa igreja cheia de lembranças e riquezas. Foi assim, que no sábado 15/08/2015 entrei na igreja de N. Sra do Carmo. 
(fonte, esculpida em pedra-sabão, lembra o símbolo que identificava os cristãos, os peixes cruzados)

Logo na entrada, pela antiga sacristia, encontrei um grupo de belas goianas acompanhando um guia. Juntei-me a elas. E foi muito o que aprendi.



Ficou pronta em 1763 e toda decoração teve a criação de Antônio Francisco Lisboa, o Mestre Aleijadinho. 
O guia Eduardo nos fez ver o que nossa ignorância deixava escapar. O mestre escultor deixava sinais identificatórios, como o pé esquerdo sempre mais à frente que o direito em suas imagens. 

Não há espaços lisos, cada pedacinho tem de ser preenchido com alguma figura em relevo. A madeira ganhando aparência de coisa viva. E tudo recoberto de fina camada de ouro. Os cristãos venerados ali, nos dois altares laterais, foram grandes pensadores, doutores da Igreja, como São Simão Stock

 e São João da Cruz, ambos carmelitas. No alto o acabamento tem forma de cortinas abertas. 

Os púlpitos laterias, de onde eram lidas as escrituras, um lembra o ensinamento de Jesus: onde estiver teu coração ali está teu tesouro; 

o outro Jesus falando a mulher samaritana: ah se tu soubesse quem está te pedindo água! 

Os olhos ficam presos a tanta beleza. 

Daí, dá para voltar a luz do dia, soltar a bike, montar e sair subindo as serras.



















segunda-feira, agosto 17, 2015

Somos formados, também, pelo que vemos.

Quando nossos olhos levam para nossa mente coisas lindas impossível não nos tornarmos melhores.
(Santuário de N. Sra. da Piedade, padroeira das Minas Gerais, no comecinho do domingo 16/08/15)
Em dois dias vi tanta coisa linda, tanta beleza, que me sinto repleto, satisfeito por muito tempo.
(São João da Cruz, obra do Aleijadinho na igreja da Irmandade de N. Sra. do Carmo, em Sabará)

Foram maravilhas feitas pelo homem e pela natureza, em suma pelo Criador. 
(completando 9 h de pedalada, subia a serra da Piedade enquanto o dia acabava) 

Essas impressões, não conspurcadas pela maldade do pecado, nos tornam leves e bons. 
(do alto da serra do Sabará vê-se a serra da Piedade; sobe-se uma e depois a outra)

Andando de bike por Minas voltamos a ver o mundo com complacência, mesmo que a diferença entre
o que é tão bom e o que é feio nos atinja como uma bofetada.
(São José e o menino Jesus em meio aos milhares de detalhes do barroco mineiro de 1724)
Vontade era não voltar mais das Gerais, ficar perambulando por aqueles altos sem voltar ao mundo cotidiano. (o Santuário de toda Minas Gerais é uma pequena capela, coisa mais linda de ver, e foi um impacto quando subi o último lance da serra e ao dobrar grandes rochas dei com ela aberta ainda parecendo me esperar de braços e portas abertas) 

Que vontade me dá arrancar você, meu amigo que me conhece ou que pedala comigo e leva-lo para se encher de carismas, de sonhos bons e da certeza que existe algo muito melhor do que vivemos no dia-a-dia.