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sábado, junho 20, 2015

Pedalando acompanhados pela Pedra Selada

Um passeio ciclístico pode ter uma égide, um respaldo que alegra os olhos, incentiva o coração e motiva a vontade. Quando voltamos da festa em Santo Antônio do Rio Grande fomos acompanhado em grande parte do percurso pela bloco monumental de granito da Pedra Selada. Nossa égide.

Acordamos cedo sob um frio de 8° do alto da Mantiqueira. 

O nevoeiro toldava a paisagem transformando-a em parte de um sonho. 

Mas ao encarar a subida forte da saída do vale o nevoeiro desapareceu, o sol se impôs e o sonho virou realidade. 

Quando viramos a cumeeira e começamos a descidona, entre os pinheiros vimos o baluarte que nos guiaria.

Entramos em Mirantão que mal acordava. 

Sua rua simpática de casas de boneca nos recebeu com café forte bem quente acompanhado de queijo Minas bem curado.

E seguimos viagem em caminhos sombreados até que apareceu um cão amigo que nos acompanhou por uma légua. 

Chupamos tangerina doce de um pé carregadinho e continuamos correndo de volta. 

O monumento rochoso estava sempre ao nosso lado enquanto passávamos pelo vale do rio Preto.

Deixamos as terras de Minas Gerais e entramos em nosso estado do rio de Janeiro. 

O caminho arborizado na manhã ensolarada e fresca é tudo que um ciclista que está fazendo bastante esforço quer.

Chegamos a ponte do Souza e pegamos a estrada para Vargem Grande e Resende. 

Depois de um repetido sobe e desce pegamos uma descida forte que testa a resistência dos braços e das mãos. Quase ao pé da serra se avista bem os cumes que dão nome a montanha, Serra do M.


Dali pegamos o caminho tortuoso para Quatis e de lá entramos na Dutra ansiando chegar em casa. 

















domingo, junho 14, 2015

Santo Antônio do Rio Grande, a festa e o vento.

Corremos como o vento.

Há muito ele faz parte de comparações: o vento acariciou minha face ou estava a favor do vento.
Nosso pedal à festa de Santo Antônio do Rio Grande, nestes dias 13 e 14/06/2015, teve uma grande participação do vento. Olhe como ele jogava longe as fagulhas.

No século XVIII, com a Era da Ciência, ele perdeu toda sua poesia. Revelaram que é só o resultado de uma frente fria, mais pesada, descendo e empurrando o ar quente, e mais leve, fazendo o ar se mexer. E passava gelado por nós vindo do rio Paraíba. 

Antes era mais romântico. Os gregos lhes davam nomes próprios, como Zéfiro e Bóreas. Os gaúchos ainda falam do Minuano como menino traquinas que fica levantando os vestidos da gurias.
Seja como for ele soprou em nossa volta enquanto subíamos os morros que com esforço nos levam ao alto da Mantiqueira. 

Correu a nossa frente até Falcão e levantava poeira na estrada de chão até Carlos Euler. 

O Sol o mantinha aquecido. Mas então, enquanto almoçávamos tivemos de fechar a porta de vidro para que a comida se mantivesse quentinha. E como estava gostosa!
Na subida para Augusto Pestana até o vento Sací apareceu redemoinhando e fazendo estripulias. 

Na bifurcação entramos à direita e tocamos pelo outro lado da serra, à sombra, e ele ficou mais frio mexendo nos galhos das árvores. 

Chegamos a Bocaina de Minas e paramos para tomar sorvete e beber água. Não estávamos suados, mas a aragem constante parece que nos desidratava. Um sossego tão grande nos cercava tirando de nossa mente as preocupações do dia a dia. E o vento as levava pra longe.

Estávamos no último trecho do primeiro dia, na estrada para Santo Antônio do Rio Grande. Com festa acontecendo desde o dia anterior o chão era puro talco e os carros levantavam nuvens de pó. Nesta hora o vento nos ajudava espalhando-o rápido e levando-o embora. 

Entramos na cidade cheia de gente e corremos para a Casa Paroquial no largo da igreja, no alto. Igual ao vento moleque fiz arte subindo a fogueira.

Depois do banho e da troca de roupa saímos para ver a chegada daquele que serviu a Deus com tanta devoção, tornou-se um exemplo para seguirmos e merece nossa admiração e reverência. 

Mas precisamos vestir agasalho porque a temperatura baixava rapidamente e o vento tornava a sensação térmica mais fria.


A missa aqueceu nossos corações, os fogos alegraram nossos olhos e a fogueira espantou o frio.

A temperatura baixou até 8°, mas não notamos, dormíamos sob cobertores descansando para a volta no dia seguinte. O vento rondava lá fora.      

segunda-feira, junho 08, 2015

Travessia da Serra Negra

Nunca diga: não volto mais lá.
(foto da serra de Itatiaia tirada da van quando subíamos depois de Engenheiro Passos)

Neste domingo, 07/06/2015, fiz um pedal que foi ao mesmo tempo muito bonito e terrivelmente pesado. Passei por lá há alguns anos e tinha prometido nunca mais voltar. E voltei.

Mas deixe-me explicar o que é a Travessia da Serra Negra. Por trás das Agulhas Negras desdobram-se várias serras. A Serra Negra separa um arraial onde produzem queijos, mel, farinha de mandioca e de milho e rapadura, de Visconde de Mauá e outras cidadezinhas que vivem cheias de turistas que compram esses artigos feitos artesanalmente. Então, os produtores formam tropa de burros e sobem e descem a serra. Pois foi esta Trilha dos Tropeiros que fomos percorrer.
(à esquerda o vale da Serra Negra, bem à direita Maromba, no meio a montanha - uma linha de fotos marca o caminho que fizemos)

Esta serra tem seu arcabouço de granito coberto por uma grossa camada de saibro. As pisadas dos animais soltam esse material e as chuvas arrastam-no formando valas, voçorocas e pequenos cânions.

Não dá para pedalar naqueles altos, empurramos as bicicletas levantadas rodando só com as rodas traseiras. Mas a natureza enche os olhos e os corações.

Mas um pedal cria maravilhosas situações. Passamos por um restaurante onde faríamos a refeição.
- Disseste bem, Zé. Faríamos, mas ele estava fechado.
Dai começamos a subida de uma serra que de maneira alguma poderia ser feita de estômago vazio. Deixei a rapaziada consertando um pneu e subi procurando quem nos desse um almoço. Logo acima encontrei a casa de ‘seu’ João e ‘dona’ Maria. Ela fez uma comida bem simples: arroz, feijão, macarrão, torresmo e farinha de milho. Mas tudo refogado com gordura de porco. Estava muito gostosa.

Meu Deus, e essa gente hospitaleira mora numa casa de dois cômodos e feita de madeira.

Estávamos num vale e tocamos a subir até 2.000 m. O alto das serras ali são campos de altiplano, com vegetação rasteira.


O ar frio e limpo fazia um enorme bem. Cheguei a tirar uma soneca esperando os jovens que vinham retardatários. Aqueles altos quase intocados pelo ser humano mistura: matas não tropicais – sem cipós, espinheiros e arbustos – com campos gramados. Enquanto subíamos estávamos defronte da serra de Itatiaia,

mas quando dobramos a cumeeira apareceu a Pedra Selada.

Depois ficou muito cascudo o caminho, uma descida completamente erodida que tornava a trilha no meio da mata interminável.

Mas fiquei feliz de ouvir a rapaziada falando animada: este foi o pedal mais desafiador que já fizemos! E olha que eles andam por muitos caminhos. Enfim, chegamos em Maromba.     

quinta-feira, junho 04, 2015

Quilombo de Santana no inverno.

Como um bando de maritacas alegres os ciclistas saíram cedo, atravessando o nevoeiro que ainda pairava no ar. 

Esta é uma época boa para se pedalar, o inverno, a estação das temperaturas amenas, do ar frio que penetra os pulmões, como hoje, 04/06/2015, dia de Corpus Christi.

Formado pela poeira de uma estrela que explodiu num passado remoto, o planeta que girando agregou matéria se colocou a distância certa de sua estrela e com uma inclinação em seu eixo que permite a variação de temperatura, e as mudanças na vegetação e nos seres vivos.

As estações do ano são mais um ingrediente que produziu toda variedade que temos. Por muitos dias viveremos no inverno. E que tempo bom para se pedalar!

Saímos doze homens do Aero e como num voo rasante passamos pelo Voldac, subimos para Santa Cruz e, nos afastando da cidade embrenhamo-nos pelo caminho do riacho do Peixe. 

Fugir do amontoado humano, escutar o chiado dos pneus sobre a areia, vendo os pastos molhados de sereno e as cores esmaecidas que vão ganhando definição com os raios do sol que saem por trás dos morros, é um remédio para as almas cansadas da competição, do barulho e dos acontecimentos injustos e violentos.

Desembocamos na estrada Santa Rita de Cássia-Amparo, corremos até a fazenda Santana do Turvo e, na estrada para Quatis já sentíamos o calor reconfortante do Sol. Chegamos ao pontilhão da estrada de ferro e dobramos no caminho para Ribeirão de São Joaquim e tocamos a subir. 

Lá adiante, numa parada de ônibus coberta pegamos o desvio à direita que leva ao local em que negros escravos fugidos da vida sem esperança escondiam-se nos vales atrás dos morros e fizeram suas moradas no alto. 

Depois de fazer força pelas encostas paramos no pátio fronteiro a igreja onde no frontão se lê: Salve Anna genitora da Mãe de Deus. Para quem ama e pesquisa História fica a pergunta: o que surgiu primeiro ali naqueles altos, a igreja de Sant’Anna ou o quilombo? 

Destrancando um portão entramos no pátio lateral cercado por secular muro de pedras e, lá aos fundos, tentamos ler o epitáfio no túmulo do Barão, donatário e benfeitor dessas terras que se perdem de vista.


Depois foi pedalar pelas cristas dos morros e descer por caminhos semeados de escória que, como dentes afiados, só esperam um vacilo nosso. Saímos na estrada Ribeirão de São Joaquim-Amparo e só paramos para comer um pastel quentinho e beber muito líquido. Daí foi tocar para casa onde pousamos cansados e felizes.