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segunda-feira, abril 27, 2009

Hoje tem Futebol
Este domingo, 26/04/2009 (veja como o ano vai correndo), amanheceu com muitas nuvens, mas os ciclistas compareceram entusiasmados ao ponto de encontro. Faríamos um longa volta, tantas vezes percorrida, passando por Amparo, Dorândia e almoçando na sede campestre da Associação dos aposentados.

Como bom sinal de que o passeio seria feliz encontramos o compositor e cantor do Hino do Clube Adventure, o amigo Murilo.

Sem pressa, as conversas rolaram mansas. Comentei com João Bosco o quanto estou gostando da leitura do livro Quem me Roubou de Mim. O autor, o padre Fábio de Melo, fala de um tema difícil sem se perder em divagações. O “Mim”, na compreensão dele é formado de um corpo e de uma subjetividade. Ele prefere não falar em alma. Diz: “Não queremos compartimentar as duas realidades, tampouco legitimar a perspectiva platônica (de Platão) de que o corpo é a prisão da alma”. Ou como diz em outro trecho: “A expressão alma refere-se (na sua concepção) ao conjunto de realidades humanas que são imateriais... vontade, liberdade, desejo”. O padre ensina então como se evitar deixar que outrem tire a nossa liberdade, domine a nossa vontade e interfira no que desejamos, isto é, que nos roube da gente mesmo.



Em Amparo encontramos dois ciclistas, Celso e Nick, que foram convidados para nos acompanhar. O jovem Nick fazia seu primeiro passeio de Mountain Bike e, como era de se esperar cansou rapidamente. Com paciência o colega Jorge o ensinou a alongar os músculos que estavam prontos para travar com câimbra. Também colaborei ficando para trás para lhes fazer companhia.

Perto de Dorândia me adiantei para encontrar os colegas na padaria. Quando os novos ciclistas chegaram cansados achamos melhor eles voltarem enquanto continuávamos para Vargem Alegre e o almoço na AAPVR.

Pedalamos com vontade para comer o peixinho frito, acompanhado de cerveja, que não ia ter paciência de nos esperar. Depois de um café quente fresquinho e de jiboiar um pouco tocamos para casa. Tinha futebol à tarde e todo mundo queria estar em casa de banho tomado para ver a disputa, felizes por ter pedalado.

sábado, abril 25, 2009

Uma pedalada bem estranha
Quem não anda de bicicleta por longas distâncias se pergunta como se faz quando fura um pneu ou quebra uma peça. Não tem idéia de que levamos tudo de que precisamos em pequenas bolsas. E é difícil alguém do grupo que anda por mais de cem quilômetros num dia não precisar fazer um concerto na bike. Reginaldo comentava um dia desses que por mais de uma vez teve de remendar o pneu na serra do Pacau bem no trevo de Taboão. Mas tem dia que o bicho pega. Assim foi neste domingo, 20/04/2009, quando voltamos a Trilha do Chifre.

Parecia uma pedalada normal, destino Sta Isabel. Quatro bikers: Edinho, Marcinho, Pedro Eduardo e eu. João Bosco vigiava uma gripe e não veio e Marquinho seguiu com a gente só até Amparo. Tempo agradável seguíamos o asfalto tantas vezes percorrido. No caminho decidimos percorrer a trilha que era desconhecida para dois de nós. Não seria uma tarefa fácil. Uma coisa estranha começou a suceder logo no início, só não nos demos conta. Repare nesta foto.

Agora, olhe mais de perto. Edinho bocejava, e se é verdade o que dizem os antigos nosso passeio teria a companhia de um encosto. Mas continuamos, nada assusta um biker, e seguimos descobrindo novas belezas na conhecida paisagem.

Depois de um bom lanche em Sta Isabel, enveredamos pela estrada de chão com muitas subidas e lindo panorama. No meio da vastidão o ciclista se sente como um pássaro que não precisa semear nem colher.

Logo chegamos a pedra negra, onde cresceram os colegas, Val e Pedroso. Dizem que entrando à direita saimos em São Bento, assim abadonamos o caminho certo e trilhamos o duvidoso. Aí surgiram as coisas estranhas. Todo mundo começou uma incrível abrição de boca. Pedro Eduardo quase mugia, uuaaaaá. Eu te digo, não era comum.

Então, a bicicleta de Marcinho rebentou a corrente. Um concerto que leva 15m demorou meia hora. Ele andou cinquenta metros ela partiu de novo e o concerto demorou mais. O passeio estava virando um pesadelo. Mas um bom ciclista sempre leva tudo na esportiva.

Chegamos numa fazenda onde de outra vez até tomamos leite fresco, desta feita a recepção foi fria. Nada estava dando certo. Eu que pensei dar uma volta de cavalo ficou no ora veja. Só Pedro Eduardo pode brincar com a bezerrada.

Passamos pelos chifres que dão nome a trilha e muito sem graça tiramos fotos para recordação.

Tocamos para adiante e de novo a corrente abre, e pior, quebra a gancheta. Outra hora perdida e o almoço ''já era''. Pedro Eduardo não conseguia segurar os bocejos que ameaçavam engolir a nós todos. Marcinho seguia sem as marchas, para ele isto não seria problema, mas o pior é que a corrente encurtada ficou pequena e toda hora travava o pedal. Só empurrando.

Que vale Sta Isabel estava perto, uns três quilômetros. O jogo da decisão da Taça Rio já havia começado e pra voltar para casa só havia um jeito - a vergonha dos ciclistas - pegar um ônibus. Então, foi ou não foi um pedal bem estranho?

domingo, abril 12, 2009


Ibitipoca 2009
As terras altas da Mantiqueira são mágicas e cheias de mistério. Pedalando lá em cima das serras o ciclista tem a impressão de que tem o mundo aos seus pés. A estradinha se estende como uma cobra muito comprida, cheia de curvas e passando entre cortes feitos nas pedras, como se nada pudesse estorvar sua passagem e a dos caminhantes que se aventuram por estas veredas, seja a luz brilhante do Sol, seja ao luar no meio da noite fechada. Tudo ali parece magia.

Tivemos a ventura de percorrer estes caminhos no meio da capoeira. Atravessamos lugarejos (como Vargem do Brumado) e cidadezinhas quase mortas (como São José do Palmital), esquecidas no meio do nada e que tão bem foram descritas por Guimarães Rosa. Para chegar ali pedalamos 60 km por cenários bem conhecidos e que não vou me demorar descrevendo: Amparo, Santa Izabel do Rio Preto e Santa Rita de Jacutinga. Mas vou falar do que vimos naquelas alterosas.

Começo falando da subida do Pacau. Rampa longuíssima que sobe por 24 km. Diferente de outras subidas, como a do Guaraná Quente, mais inclinada, porém mais curta, o Pacau com sua inclinação suave vai sugando as forças do ciclista pela persistência. Persistência nossa, diga-se de passagem. Não havia meio de subir sem fazer paradas, tanto para descansar quanto para ver o belo cenário ao lado da estrada.



Subimos o Pacau, acompanhados por quatro cachorros. Cheguei a comentar com nosso grupo, Edinho, João Bosco, Sérgio, Marcinho e Pedro Eduardo, que o menorzinho deles tinha convidado os amigos a subir até Bom Jardim, como a gente estava fazendo. Durante um bom pedaço do trajeto eles ora passavam nossa frente ora ficavam para trás. Quando chegávamos ao caldo de cana, que felizmente estava aberto, eles voltaram para casa, mas nós continuamos para nosso destino, Ibitipoca.

Ao invés de fazer o percurso até Bom Jardim em seis horas gastamos nove, chegamos com “a barriga nas costas”. O almoço no restaurante de D. Carmem estava gostoso. Também temperado com a fome que a gente estava! Os colegas: Pedrão, Dunga, Márcio e Márcia chegaram logo depois e fomos “jiboiar” na praça. A tarde caia, as sombras dos coqueiros que enfeitam a praça já se esticavam bastante pelo chão. Era hora de voltar a pedalar, 16 horas.

Aí sim, estávamos no alto da Mantiqueira vendo os vales verdejantes se estendendo lá em baixo. Território desconhecido para nós, tratamos de consultar o mapa do trajeto feito por Reginaldo que por esta hora devia estar saindo de Volta Redonda com outros ciclistas. Passamos pela entrada da fazenda Três Poderes (assinalada no mapa) e continuamos para o marco seguinte, Capoeira Grande. A tarde carregava as cores de um amarelo ouro que enchia o coração da gente de nostalgia.

Chegamos no pequeno povoado junto com as sombras da noite que vinham correndo atrás de nossas bikes. Depois de nos hidratarmos e nos informamos sobre o próximo marco, o Cruzeiro. Veio a boa notícia: Ora estava pertinho! Só mais 3 km! Conforme informação da Secretaria de Turismo de Lima Duarte, município ao qual aquelas terras pertence, no Cruzeiro encontraríamos o bar do João Cambão que nos arranjaria um lugar para pernoitar. Saímos com os faróis acessos porque aproveitando a parada da gente a noite nos passou a frente.


Aí foi beber e comer queijo. Mandamos descer cerveja bem gelada e queijo nozinho e refrigerante mais gelado ainda com queijo mineiro. Entramos no espírito das minas gerais, queijo a toda hora e a todo o momento. Ali, conversando e brincando, aguardávamos os quatro colegas que deixamos almoçando em Bom Jardim. A noite estava linda com a Lua prateando tudo.

Daqui a pouco apareceram faroletes cortando a noite. Saímos para a estrada gritando e incentivando nossos cansados colegas que foram recebidos com abraços e muitas palmas. A pousada já estava reservada na localidade de Souza, mais 3km à frente. Tocamos para lá para um banho demorado, uma volta pelos barzinhos do local e para uma noite bem dormida. Era véspera da sexta-feira santa.

Acordei com os galos cantando e não consegui ficar deitado quieto. Levantei, me arrumei e deixando a turma “nos braços de Morfeu” saí para o sereno. Havia uma claridade baça no céu. Os galos continuavam desafiando o Sol a aparecer. Na rua vi a silhueta de outro que acordou cedo. Mas logo todo mundo estava saindo de casa, um vizinho chamando o outro. Não era coisa ruim porque todo mundo estava alegreO alvoroço aumentou. Perguntei a uma mulher o que era aquilo e ela respondeu: “Hoje é dia de pegar leite na fazenda!” Não entendi e ela explicou: “Na sexta-feira santa os fazendeiros distribuem leite de graça. Vai todo mundo pegar o quanto pode!” Vinha passando um fusca, pedi carona e fui também pegar leite “de grátis”. O "seu" Fernando (o da direita) nunca tinha vindo a este cural e custamos um bocado a achar o lugar. Quase perdi a hora, porque mineiro não tem pressa. Além de 30 litros de leite ele e "seu" Joaquim ainda pegaram duas morangas.

De volta cheguei em tempo de tomar um café com leite reforçado com pão de queijo e muito queijo mineiro. Deixamos o Souza já com vontade de voltar. Agora, a meta era Ibitipoca. O mapa mostrava cortes nas pedreiras por onde íamos passar até São Domingos da Bocaina. Lá, só deu para tomar um refrigerante e isto porquê o vendeiro saiu de casa para nos atender. Na sexta-feira santa não abre comércio nenhum naquelas veredas perdidas.


Corremos para os outros marcos do mapa, São José do Palmital e Vargem do Brumado, arraizinhos de nada. Antes de Rancharia o mapa nos apontava uma trilha que corta caminho. Antes da entrada deparamos com uma procissão do Senhor Morto. Tocamos para diante já fracos de fome. Na última casa onde tomamos informação pedimos alguma comida e fomos convidados para tomar quanto café com leite agüentássemos acompanhado de pão de queijo e broa de milho. E foi bom, porque pela frente tinha um trilho subindo e subindo que era quase uma escadaria no meio da mata. Sem comida no estômago não íamos agüentar.

Lá em cima, estávamos acima de Conceição de Ibitipoca e quem já foi lá sabe como o lugar é alto. Com um vento fresco nos animando descemos e entramos no arraial com o cheirinho de maconha queimada vindo de todos os lados. Brincadeira! Mas o que tinha de rastafari não é brinquedo não! Então os ciclistas se reuniram com seus familiares e amigos que foram de van. Mais não vi, porque peguei um ônibus e desci a serra, peguei outro e mais outro e cheguei em casa nos últimos minutos desta formidável sexta-feira santa, Projeto Ibitipoca 2009.