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sábado, novembro 20, 2010

VIAGEM A PARATY - DIA 3º

Barro, barro e mais barro. Por três dias lavávamos as bicicletas sempre que víamos uma mangueira d'água. O colega João Bosco que já havia feito o trajeto avisou: veja que as borrachas estejam novas, as descidas comem os freios todo. E a areia agarrada na folha da roda fazia a bike chiar ao descer voando cada uma das mil descidas.
Meu anjo protetor quase me abandonou na descida para Paraty, a bike a mais de 60km/h chiava com o atrito de ferro contra ferro. Só lá em baixo, quando freiei por causa de um quebra mola e de crianças e cachorrinhos na pista, é que o pneu murchou na hora, a câmera rasgou com o calor e abriu um palmo. Um bêbado que nos alegrou na frente da birosca onde arrumamos o pneu devia ter recebido meu anjo cansado que devia estar me dizendo: até aqui eu te trouxe, agora você continua por tua conta.
O terceiro dia começou lindo na pequena Campos Novos e depois de um gostoso café da manhã e ajustes e regulagens nas magrelas rodamos por 30km só em asfalto. Um sol maneiro dava cor a paisagem deslumbrante. Andando pelos altos dos morros da serra víamos um mar de morros se desdobrando de um lado e d'outro do asfalto. Lembrava o oceano agitado por ondas se quebrando.E nós montados no espinhaço da serra.
A estrada não corria circundando as colinas, não. Andando pelos altos su-bi-mos e descemos encostas do tipo da Mutuca umas doze vezes. Quando as pernas começavam a se queixar avistamos a belezura do casario de Cunha. Um almoço farto, gostoso e barato nos fortaleceu para o derradeiro avanço.
Tanto sair de Campos Novos quanto de Cunha exigiu vencer uma subida bem íngrime. Vendo aquela placa na qual aparece um carro quase em pé num plano bem inclinado, Peixe comentou: dá vontade de virar o carro pra baixo para tirar essa impressão má de esforço. Mas só fizemos mesmo foi desmontar e empurrar. Foram precisos três subidonas até o fim do asfalto e da placa de divisa de estado para ultrapassar a serra. Já escurecendo nos vimos na entrada do parque Nacional.
Abandonamos a serra, mas não foi uma tarefa fácil. No princípio tinha um pavimento bom, depois por 8km fizemos um downhill velóz que logo se transformou numa disputa de terreno com dezenas de carros que subiam do feriadão. Descendo e descendo, soltando e prendendo o freio, sempre pensando no aquecimento da folha e no estouro do pneu, chegamos a mata litorânea. Vencemos a serra do Mar como tantos tropeiros fizeram por séculos com seus burros carregados.
Daí foi correr para Paraty por uma ciclovia cheia de curvas. Recomeçou a chover. É lindo o centro histórico com suas ruas ilumidas por lâmpadas amareladas dentro de luminárias que lembram antigos lampiões do tempo que a luz era produzida por óleo de baleia. Por falar em baleia (mesmo não sendo peixe) e cansados de macarrão fomos comer uma peixada saborosa. E assim terminou a Viagem a Paraty.

quinta-feira, novembro 18, 2010

VIAGEM A PARATY - DIA 2º

A placa apontava para Bairro dos Macacos e no chão úmido uma seta feita as pressas indicava que a turma já havia tomado aquele caminho. Fui atrás deles. Meu atraso devedeu-se a que, tendo saído bem na frente, fui visitar o Paredão, uma lage de pedra por onde escorre um rio de águas límpidas no meio de um bosque de coníferas.
Encontrei o grupo logo adiante tirando fotos na Casa de Pedra, antigo sanatório para tuberculósos. Tornamos a correr como um bando de crianças travessas, soltas, sem ninguém tomando conta.
Enquanto no primeiro dia andamos 110km e subimos de 360m para 1.500m do nível do mar, agora, no segundo dia avançaríamos pelos altos da serra do Mar por 60km chegando a 1.800m de altura. O visual é lindo e os velhos granitos - que os geólogos dizem ter 800 milhões de anos, bem antes da formação da serra - tomam as formas mais variadas.
Às 15h ainda não almoçáramos, a fome tirava as forças e o frio me fazia tremer. Chegamos na morada do 'seu' Ademir, antigo conhecido dos ciclistas do nosso clube que nos franqueou a casa e a cozinha. Incansável, Reginaldo assumiu o fogão fazendo uma macarronada deliciosa e um angú que refêz nossas forças. Enquanto isto o velho guerreiro dormitava na poltrona com um cobertor que Celmo, preocupado, colocou por cima. Refeitos pegamos um decidão para o Bairro dos Macacos em meio a neblina.
O grupo se dispersou e quando chegamos a cachoeira do rio Paraitinga (pai do nosso Paraíba do Sul) a noite já estava em nosso encalço. No escuro, houve queda e corrente rebentada, mas com grande alegria, no alto de uma subida, avistamos as luzes de Campos Novos. Terminava o segundo dia.

quarta-feira, novembro 17, 2010

                                              Viagem a Paraty - Dia 1º

Já estamos vendo a serra da Bocaina, nome que a serra do Mar recebe no trecho norte do estado de São Paulo. Por quase três dias vamos andar em terras paulistas. Vamos pedalar lá naqueles altos, onde o ar é mais leve, os pássaros parecem que cantam mais alegres e a vegetação é quase temperada.
O sábado, 13 de novembro de 2010, começou complicado, com chuvas e trovões. Estava marcada, há meses, uma viagem a Paraty passando por cima da serra do Mar, um percurso de mais de 200km para serem percorridos em três dias. O tempo não nos demoveu e pegamos o asfalto passando por Bananal, Arapeí e chegando a São José do Barreiro para almoçar.
Começando a subida e vendo São José do Barreiro ficar cada vez menor lá embaixo, vou lembrando o que li sobre a formação da serra do Mar. Há 200 milhões de anos, no caos, a crosta da Terra estava num formidável jogo de forças. O Gonduana se fragmentava, o grande continente meridional se partia, mas não sem oferecer resistência gigantesca. O que hoje é a costa brasileira, naquela época, opunha-se tenazmente a se separar do que agora é África. Então, num momento, a grossa placa não resiste a poderosa corrente no manto do planeta e se rompe. Pense numa borracha bem esticada rebentando e a lambada que ela dá voltando, foi isto, esta força cíclica, que formou estas serras, que levantou os velhos granitos a 1.800m. Íamos lá para cima.
Foram 22 km de uma subida de 1.000m, quer dizer, a cada quilômetro subíamos 50m ou a altura de um prédio de 16 andares. Os primeiros 8 km foram sem dificuldade, mas daí para cima a lama e o terreno errodido fez a maioria de nós desmontar e subir empurrando as bikes. A subida parecia nunca terminar. O nevoeiro envolvia tudo. Os pássaros da noite nos assustavam piando invisíveis a nossa volta. Chegamos no Lajeado às 22h, levamos 6h subindo num terreno embarreado pela chuvas desta fria primavera.

A velha casa de fazenda com sua sala de assoalho de largas tábuas corrida e a lareira queimando lenha de araucária aquece e dá preguiça aos corpos moídos da subida. Banho tomado, roupa lavada e posta para secar perto do calor da lareira, jantamos uma macarrona com linguiça e ficamos conversando em torno do fogo. O sono chega rapidinho. 
Amanhece, o nevoeiro dá uma aparência de sonho à pousada do Lageado. Sede de antiga fazenda é um hospedaria simples a conchegante. Mas há muito que fazer: bicicletas para lavar, mochilas para arrumar e na cozinha, perto do fogão de lenha, é hora do reforçado café da manhã.
Consigo um tempo para caminhar pelas veredas úmidas de chuva. Rolinho, cão da pousada me acompanha e me mostra o trilho na floresta. Parece que estamos num bosque da Áustria ou na Floresta Negra, na Alemanha. Que mudança desde que isto aqui era uma montanha careca feita de calcário e rochas contendo uma mistura louca de muitos minerais. Não havia grama, nem araucárias, nem água cristalina rolava pelas pedras. Não havia homens para presenciar a era do caos, ou como diz na Bíblia: quando a Terra era sem forma e vazia. Mas milhões de seres presenciaram o tempo em que forças titânicas contorciam o planeta e por vários meios eles fizeram os humanos adivinhar aqueles terríveis momentos. Os gregos contaram tudo na sua Mitologia e chamaram-nos de mundo dos Titãs. Mas agora só existe a paz nestas montanhas.

sexta-feira, junho 25, 2010

Indo bem longe
Quando um ciclista sai para fazer uma trilha desconhecida, longe de sua casa, os conhecidos o chamam de maluco, não entendem porquê alguém precisa fazer um esforço desses às custas de nada. Quem o ama, conhece as inquietudes que lhe vão pela alma, sabe que seu amor veio nesta vida com uma alma agitada e só por isto se encontraram e se escolheram. Assim, abençoa sua partida pedindo a Deus que ele volte logo.
Vejo isto nas viagens incansáveis dos vikings, conforme conta o livro A Cruzada de Ouro: "Mas foram dominados por uma onda de excitação e fizeram um caminho bem longo, estavam agora, bem longe da pátria deles. A presença viking aqui em L'Anse aux Meadows, na América do Norte, está totalmente documentada, corroborada pela arqueologia. Meio enlouquecidos por causa da sede e do cansaço, alguns deles ainda estropiados por seus ferimentos em Stamford Bridge, eles devem ter ficado aterrorizados, mas estimulados, temerosos de a qualquer momento chegar inesperadamente ao fim do mundo, mas aproximando-se a cada dia de Ragnarok, da prova final onde se juntariam à corajosa batalha de Odin e Thor pela última vez, com suas grandes achas-de-armas. Para nós o trópico parece benigno, mas para os vikings ele deve ter sido uma visão do inferno, um aglomerado de aura vermelha que parecia arrastá-los para mais perto de seu destino".
Uma pessoa comum dificilmente pode compreender a mistura de sede, fome, frio, músculos doloridos e membros feridos, envolvidos por ansiedade e medo, que sente o homem e a mulher que testam suas forças, não, suas fraquezas. Mas é uma comoção física que aproxima a pessoa de uma experiência espiritual. Os sentidos ficam tão excitados, a dor é tão real que se parece com uma revelação, um momento glorioso numa batalha de anjos. Essa vivência fica registrada na alma, passa a fazer parte das verdadeiras riquezas que um espírito ao passar pela Terra leva para eternidade. Não fique satisfeito com uma vida comum, tente uma coisa nova e mais forte que te acrescente algo. Seja um viking.

terça-feira, junho 15, 2010



Pensamentos de um ciclista solitário

Pé, dá-lhe pé, forçando a bike nas subidas, ele e sua máquina sozinhos, forçosamente o homem questiona sua identidade. Os pensamentos correm soltos adiante da bike. É o fenômeno da revelação que acomete com quem está numa empreitada devocional. Então, comecei a pensar: de que é feito o homem? Lembrei das palavras no começo da Bíblia: "E Deus fez o homem do pó da Terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida e o homem se tornou uma alma vivente". É tão maravilhoso poder se dar conta de que se é um vivente no meio deste mundo cheio de vida!

O frio deste 13/06/2010 está forte e mesmo nossa estrela queimado seu combustível com vontade mal dá conta de evitar que minhas mãos, cobertas por luvas de lã e crispadas nos bar hends, congelem. O Paraíba do Sul solta um vapor tremido, páro pra tomar um gole de água fria e olhando para trás vejo seu belo leito coberto de mata. O dia começa explendoroso. Estou só, com meus pensamentos.

Volto a refletir e sinto que falta algo, nesta descrição da Bíblia. Recapitulando: Cada humano é feito do mesmo modo, com elementos presentes em nosso planeta: cálcio, ferro, manganês (são mais de cem) e o maravilhoso carbono. São átomos diferentes, em cada um as subpartículas (uns com mais outros com menos) estão arrumadas de formas diferentes. Então, ordenados em forma de colares, tornam-se moléculas, que têm o dom da vida. É só isto? Não sei se são os hormônios acelerados no meu sangue que me faz pensar tanto.

Continuo pedalando. Minhas paradas são breves. Estou andando desde ás 7 horas e entre fotografias, lanche em Quatis e almoço em Carlos Euler não fiquei parado nem uma hora. Aqui tomo fôlego na subida de Carlos Euler. Tudo me distrai, mas é só me sentar novamente no selim que os pensamentos disparam. Reflexões.

"O sopro da vida" é um dom maravilhoso dado as moléculas orgânicas: capacidade de se agruparem seguindo um projeto formando organismos, as células. E estas têm o poder de se replicarem exatamente, mas guardando uma memória de qualquer acréscimo incidental acontecido enquanto se multiplicam formando o corpo. Mas está faltando alguma coisa para que este corpo vivo seja eu, o homem, o ciclista, que neste momento vê sua sombra ficando para trás. O dia vai acabando.

Penso então que o saber é como o dia clareando, cada vez fica mais claro. Assim é que só bem adiante na Bíblia se revela como se forma verdadeiramente um homem. A revelação veio por João, o apóstolo, quase no fim do século 1: "No princípio era o Verbo. O Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava com Deus e todas as coisas foram feitas por Ele e nada do que existe foi feito sem Ele. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós". Então é assim que se formou o homem Jesus. Um espírito se incorporou as primeiras células portadoras de um DNA oriundo de uma extensa linhagem, desde o primeiro ser com consciência de si mesmo. Chego numa bifurcação, para direita Liberdade, para esquerda Bocaina de Minas. O Sol se apronta para se pôr.

Passo por Bocaina e em outra bifurcação torno a pegar o caminho da esquerda. Antes coloco o farol no guidão, não vai dar tempo de chegar em Santo Antonio do Rio Grande sem as trevas da noite cercarem minha bike. Toco para adiante. Estou pedalando a 10 horas com interrupções que não duraram nem uma hora. E o bom é que não me sinto cansado. Apresso-me, quero ver acenderem a fogueira de 22 m de altura. Os amigos também estarão lá.

Mas ainda dá tempo para arrematar o pensamento. Quando a jovem Maria foi avisada de sua conceição, naquele instante, um ser espiritual, um ente inteligente de outra dimensão, esvaziava-se e se incorporava ao óvulo ativado que se modificava e se dividia em blastômeros, começava o processo de replicação e entrava na fase de gástrula em que além de se subdividirem as células se diferenciavam para formar todas as partes distintas do corpo. Então, o homem não é só um organismo formado dos elementos da terra animados pelo dom da vida. Há um ser espíritual agregado a esta forma. Como aconteceu com Jesus, que o apóstolo Paulo chamou de "segundo Adão", também aconteceu com o primeiro Adão, comigo, com você e com todos os humanos. Assim, um homem é um espírito revestido de carne. É tão claro! As luzes de rua de Santo Antonio do Rio Grande surgem entre as árvores. Depois, reunido com os amigos tudo é alegria.

Este longo refletir sozinho - com muitos questionamentos, avanços e digressões - resulta em uma revelação. Acontece com tantos que se empenham num propósito, seja fazendo o caminho de Santiago de Compostela, seja subindo a serra da Mantiqueira. O cenário lindo, o esforço e a fé nos iluminam.

terça-feira, junho 08, 2010

Os Dois Ciclistas

Um ancião é um escolhido, ele sobreviveu, mil foram derrubados pela morte a sua direita e dez mil a sua esquerda e ele não foi abalado. Esta sorte não deve ser motivo para sentir-se superior, mas para torná-lo um humilde devedor. E quando na velhice escolhe ainda ser produtivo ou esportista é um homem feliz que encontra em toda vida a sua volta motivo de contentamento.

Porém, cada humano é responsável, ele sempre pôde fazer suas escolhas e decidir o caminho que afinal seguiu. Assim, quando dois ciclistas de cabelos brancos param para um lanche são notados e invariavelmente elogiados e, pela parte que lhes cabe, sentem-se orgulhosos. Também felizes por poderem servir como um exemplo para outros homens, velhos e novos, que sentem a vida passar por eles sem deixar traços.

Mas não podem descansar sobre os louros, montam em suas bikes e tomam o caminho de Cafarnaum. Lá na distância a serra, existindo há muita mais tempo que os dois juntos, é um pano de fundo neste caminho cortado de riachos rasos. A idade lhes parece leve, pois viveram tomando caminhos menos pedregosos.

Os dois homens da melhor idade rodam rápido ainda que suas experiências lhes aconselhem parar e conversar ao sol - pois este outono anda gelado - enquanto se hidratam com uma cerveja gelada e contam casos antigos, pedaços de suas longas vidas. Uma amizade vale muito. É sempre bom poder abrir o coração com alguém que prezamos. Mas avançam sempre, pois têm de completar a trilha.

E mesmo já devendo estar alforriados, tendo pago suas dívidas e obrigações, criado os filhos e contribuido plenamente com o governo e a sociedade, quando o celular recupera o sinal ligam incontestes para as respectivas Lili dizendo que não demora chegam em casa para o almoço. O amor é mais forte que a morte e não envelhece nunca.

sábado, junho 05, 2010

Os Ciclistas Cidadãos

É uma maravilha andar de bicicleta por estas estradas do bom Deus. Melhor ainda pedalar com um grupo de colegas. Então, para termos um porto, um aglutinador, formamos um clube, nossa associação. Esta entidade requer nossa atenção, por isto nos reunimos com regularidade para organizar nossos passeios e outras atividades.
Foi para isto nosso encontro de 25/05/2010. Em pauta uma duzia de assuntos que iam da mudança de nossa camisa oficial à feijoada dia 20/06/2010, às 13 h, no restaurante do Dunga, onde nossas esposas e filhos poderão ver a amizade fraterna dos ciclistas e nosso bom humor - muito, com certeza, graças ao nosso esporte tão gratificante.
Este sentir-se bem nos leva a querer o melhor para nosso próximo e isto nos levou a convidar a presidente da Associação dos moradores do Aterrado, a incansável Kika, e o atuante vereador Paiva para discutirmos o projeto das ciclovias de Volta Redonda, o que nos dará mais segurança de pedalar no dia a dia e aos nossos concidadãos.
O ponto alto da reunião foi o belo desfile feito por nosso companheiro Mazinho apresentando aos convidados nossa velha camisa oficial. O rapaz leva jeito nas passarelas.
Nossos confrades João Bosco e Fabiano apresentaram informações sobre o trajeto da Trilha da Meia-noite que terá este ano a participação de ciclistas com prêmios para as primeiras colocações. Este ano, por medida de segurança, a trilha será feita pelas motos e jeeps logo ao anoitecer e nós devemos sair por volta de 14 horas. Eles só vão largar quando chegarmos.
Podem ver que nas espaçadas reuniões desfrutamos de muito companheirismo e amizada. Informe-se e compareça na próxima.

domingo, maio 30, 2010


Voltamos ao Guaraná Quente,

pois lá, mais que uma pousada é um point no alto da serra da Carioca, um trecho da serra do Mar na divisa dos estados do Rio e São Paulo. É um lugar onde nos sentimos bem. Por isto, apesar do esforço de subirmos quase 1000 m amamos ir ao sertão do rio Prata.

Este local lindo se formou há 130 milhões de anos atrás, num tempo em que forças titânicas abalaram nosso planeta. Placas tectônicas se chocavam elevando o solo centenas metros e provocando terremotos e tisunames com forças como o ser humano nunca viu. Na mitologia grega foi o tempo do caos, antes de Zeus organizar o planeta para os homens, a era dos Titãs. A serra do mar não era um local onde se passear, era um momento em que monstros não físicos sacudiam a Terra. Ainda não havia homens.

Mas quando chegamos ao pé da serra o que vimos não lembra mais as artes dos Titãs. Olhando a serra percebemos ao lado de restos de abismos abruptos uma subida sinuosa e própria para subirmos caminhando, de bicicleta (em parte) ou com veículos motorizados. Isto porque depois forças mais dóceis, vagarosas, femininas, moldaram a obra caótica. Chamamos estas forças físicas maleáveis, arredondadoras das arestas brutas, de mãe Natureza.

Então, depois de muito esforço subindo e uma agradável pedalada no cume da serra, chegamos ao nosso destino. Jipeiros e suas esposas festejavam a calma do lugar, motoqueiros contavam suas aventuras sob um lindo céu azul, e os ciclistas descansaram e participaram de um almoço muito gostoso.

sábado, maio 22, 2010


Hora de falar e hora de calar

Assim foi neste domingo, 16/05/2010. Saimos para visitar o Quilombo São José da Serra que estava em festa, lá na Beleza, um bom estirão. Saimos cedo com o nevoeiro não deixando ver mais que 10 m adiante. Éramos seis. Muitos colegas tinham ido fazer trekking em Cunha.

Então, com muita estrada pela frente a conversa rolou solta. No começo da pedalada é comum se jogar conversa fora, um papo descontraído, colocando o assunto em dia; na volta a gente vem mais introspetivo, os pensamentos correndo a frente da bike.
Neste trelelê chegamos ao quilombo.

Qual não foi nossa surpresa ao chegar ver carros e ônibus indo embora, a festa foi no sábado e rolou até amanhecer o dia. O belo prato de feijoada servida por uma linda mucama evaporou, foi uma miragem. Cheios de fome encontramos boa vontade de umas quilombolas que mesmo desmanchando a barraca fritaram bolinhos de aimpim com cheiro verde. Nem guaraná quente tinha mais. Muito menos as belas mucamas de seios fartos. Então, pelo menos, tirei foto de uma boneca feita de palha de milho.

Foi então que Marcinho nos revelou, sabia que não íamos encontrar mais nada. Mas por que se calou?, perguntamos.
- É que eu queria conhecer o quilombo. Se falasse vocês não vinham.
Faz sentido, tem hora que para conseguirmos algo, temos que nos calar. Eu também viria, queria rever este lugar escondido entre as serras. Um lugar onde homens vinham se esconder da fúria de outros homens.

terça-feira, maio 04, 2010


O mountain bike, independente do grau de dificuldade ou da distância envolvidos em um projeto, pode ter como objetivo ir a um lugar e voltar ou fazer um circuito. Neste domingo, 02/05/2010, a trilha envolveu ambos propósitos. Saimos para fazer o caminho fazenda Velha (perto de Santa Isabel do Rio Preto)-Ribeirão de São Joaquim, mas logo João Bosco propôs, terminado o circuito, rumarmos para fazenda Santana do Turvo para encontramos um grupo de ciclistas que estava almoçando lá.

O dia ensolarado de outono era uma mistura de calor e rajadas de vento frio e, na média, a temperatura fresca facilitava nossa pedalada. Primeiro corremos no asfalto conversando sobre a revista em quadrinhos feita pelo clube Adventure, para distribuir com jovens ciclistas e estudantes que tem bike, ensinando as regras para se pedalar nas ruas da cidade. Edinho comentou que ajudar as crianças a pedalar com segurança no meio do trânsito vai prepará-las bem para, como adultos, quando forem dirigir, fazê-lo com segurança e atenção.

Um belo caminho com cinco subidas fortes nos proporcionou um bom exercício e encheu nossos olhos com belas vistas. O caminho para Ribeirão de São Joaquim passa por um vale que nos deixa ver, ao longe, a serra da Mantiqueira onde ficam cidades que sempre visitamos. Depois de um lanche no alto vilarejo descemos para realizar o encontro com os colegas. Chegamos na fazenda Santana do Turvo justo no momento em que o almoço começou a ser servido.

Na longa mesa revimos colegas e fizemos amizade com ciclistas iniciantes. Vendo o entrecruzar das conversas pensei no mestre Jesus e seus discípulos reunidos para uma ceia ao final do dia, e os diversos assuntos que rolavam ao redor da mesa sobre o dia produtivo que tiveram onde qualquer pensamento de levar vantagem ou ganhar algo as custas dos outros estava longe. O bando alegre de ciclistas voltou feliz para casa.

sábado, abril 24, 2010

Pedalar é uma cachaça

Quando se destila cachaça o vapor se liquefaz em três etapas, como quase tudo neste mundo. Aliás, a vida é um grande alambique. Primeiro surge a “cabeça”, muito ácida; depois o “coração”, que faz o homem sorrir, e a “cauda” muito tóxica. Em um bom alambique só se torna cachaça a parte nobre, o “coração”, a alma da bebida. Mas a cachaça tomada nos botequins geralmente aproveita tudo e ela desce ardente e o freguês faz cara feia. (as fotos são do fotógrafo João Bosco C Reis)

O mesmo acontece em uma pedalada longa. Começa com euforia, não se percebe o esforço e a paisagem passa ligeira sob a força vigorosa das pernas. Essa parte é quase perdida, é a “cabeça”. Depois de uma hora começa a etapa do “coração”. A adrenalina corre forte nas veias, o coração está feliz, “embriagado”, e a conversa corre solta entre as bicicletas.

Assim foi nesta sexta-feira de São Jorge, 23/04/2010. Saímos para Santa Isabel do Rio Preto e pouco antes entramos à direita seguindo a trilha do Chifre ou da Rocha Negra. O jovem Gilson acompanhava o bate-papo meu com João Bosco. Falávamos de tudo e de todos. Em certo momento comentei o que estou lendo do pensador Arthur Schopenhauer sobre a vida. O filósofo disse em seu livro O Mundo como Vontade e Representação (vol IV) que somos o presente. Não adianta ficar preso ao passado, acontecimentos e pessoas. Tentar reatar uma antiga amizade dá um travo amargo de aguardente ruim. Nem é bom antecipar quem vamos ser. Somos o que estamos vivendo, o jeito que temos neste momento é o que vale, somos o agora.