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sábado, outubro 25, 2008


Trilha do Rio Congo

“Esses caras gozam com a pica do governo”. Esta frase chula foi proferida pelo colega Dunga a propósito da distribuição de títulos de terra para os sem-terra. Durante quatro anos, cada vez que passávamos pela estrada Pinheiral-Pirai desfilávamos pelo acampamento de lona preta do MST. Vivendo uma existência miserável eles esperavam que o governo decidisse tomar as terras da Cia. Estanífera, devolutas, para lhes entregar. Isto aconteceu agora. De qualquer forma, Dunga e Pedro tiveram o prazer de reencontrar antigos amigos que são proprietários de sítios, graça a ação da Reforma Agrária do Governo Federal. Eles ainda não estão gozando uma vida melhor, mas continuam atrás do sonho de possuir uma terra. Observe lá atrás a bandeira vermelha, meia caída, por falta de vento. Se for o Governo que vai dar que importa? Tanta gente já cheia de grana mama nas tetas da Viúva! Mas o que é que tem a ver MST com pedalada?

O mestre Dunga criou o hábito de pedalar às tarde de 5ª feira. Geralmente é um pedal curto, ir até Arrozal e voltar, coisa de 40 km. Olha que ele era contra isto. Sempre ensinou que o bom do pedalar é andar pelo menos por 100 km. Mas o tempo muda tudo, mas isto foi assunto de um blog passado.

Nesta quinta, 23/10/2008, insisti com eles para conhecer uma trilha bonita que andei há mais de ano e queria voltar. “É pouco mais do que vocês querem fazer”. Faltei com a verdade, mas tenho a desculpa de não lembrar bem como foi o trajeto. Dunga é um ciclista da antiga que tem uma memória impressionante da topografia da trilha. Quando falei que íamos até o meio da estrada para Santanézia ele avisou: “Olha que tem umas subidas muito forte!” Que vale que ele não é de correr do desfio, nem o amigo Pedro. E lá fomos nós andar um pouquinho a mais.

Saímos às 15:30 e prometi que antes de ficar escuro estávamos de volta. “Esta trilha é coisa de 3h30 de pedal”. Faltei com a verdade. Tinha esquecido que da outra vez, com uns poucos colegas, saímos às 6:30 e chegamos na Associação dos Aposentados perto do meio-dia. Mas depois que passamos Pinheiral e pegamos a estrada de chão entre colinas e atravessamos matas cerradas o Pedro confessou que sempre que passava para Vargem Alegre e via aquele caminho à direita queria conhecê-lo. Então, todo mundo estava contente.


Dunga estava certo, as subidas se sucederam exigindo força das pernas, mas isto faz parte do exercício. Vimos fazendas lindas e desfilamos ao lado de plantações da noz macadâmia enquanto as sombras da tarde iam se esticando e eu não chegava a entrada da trilha do rio Congo. Foi depois de passar pela fazenda que foi partida para os integrantes do MST que encontramos a entrada à esquerda.


Depois de subir tanto desfrutamos de uma descida cheia de pedras soltas que exigiu toda a atenção da gente. O rio Congo corria ao nosso lado despencando em uma cachoeira após outra. Paramos para olhar belos lagos que numa tarde quente prometiam um banho refrescante, mas não dava para cair nesta tentação, o sol já se punha entre nuvens com uma cor violeta tão linda que nem a máquina digital conseguiu captar.


Saímos na entrada de Vargem Alegre e só com o farol de Pedro iluminando o caminho corremos para Pinheiral. Dunga engasgado com minha falsas promessas acabou botando pra fora: “Pô, Zé Adal, você disse que era um pouco mais que ir a Arrozal! Estamos andando a seis horas sem parar!” Que que eu podia dizer? Levantei os ombros e disse: “Mas foi bom, não foi?” E eles concordaram. Ô trilha bonita! Falamos em repetí-la numa noite de lua cheia.

Já saindo de Pinheiral lembramos que o pessoal do Clube Bike Adventure devia vir em nossa direção para o costumeiro passeio noturno. Pedalamos por todo o leito da antiga estrada ferro e não o encontramos. Mas quando pensávamos que eles tinham ido para outro lugar eis que vemos os faróis piscando lá na entrada do túnel da Água Limpa. Foi uma confraternização cheia de sorrisos e apertos de mão e cada grupo foi para o seu lado.

segunda-feira, outubro 20, 2008


Ciclistas pinguços
ou
O Vinho Alegra o Coração

Neste domingo, 19/10/2008, enquanto vários colegas ciclistas voltavam de uma visita à Canção Nova e outros ficavam enrolados no cobertor, nós quatro saímos afrontando um céu carregado e uns poucos chuviscos. O destino era S. Bento, lugarejo com um bar que serve um pastel caseiro muito bom. Seguimos o trajeto tantas vezes percorrido até Amparo. Em pouco mais de 15 km passamos por boas subidas que exigem um bom esforço e descidas que mexem com nossa adrenalina.

Fomos até Sta. Izabel do Rio Preto subindo a serra da Mutuca em ótimo tempo. Márcio e Édson fizeram os 2.800m em 14min e eu e Manoel em 20. Depois de um breve giro pela cidadezinha voltamos com chuva e paramos no bar. O som alto sempre está tocando um forró animado. Desceram os pastéis e um vinho tinto suave gelado. Na realidade repetimos duas vezes. Com a euforia natural provocada pelo álcool planejamos novas pedaladas e uma festa familiar para o final do ano. Tudo com muito riso e pouco siso.


Com muito entusiasmo e pouca firmeza nas pernas decidimos jogar uma partida de sinuca que minha dupla perdeu sem ganhar uma vez sequer. A chuva continuava com um frio que pedia para a gente ficar por ali bebendo mais um pouco, mas a vontade de tomar um banho quente e ficar agasalhado em casa falou mais alto e pedalamos de volta. Foi um passeio com exercício e muita descontração.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Trilha na mata entre Penedo e Itatiaia
Quando os humanos eram pouco numerosos no planeta a natureza, o conjunto das leis da vida, governava a Terra sem qualquer interferência importante da gente. Usando a luz do Sol, a força gravitacional da Lua, o vento, a chuva, o frio e o calor esta dedicada mãe da vida fazia mil experiências criando uma variedade estonteante de vegetais e animais. Por muito tempo andávamos no meio disto tudo com reverência. A muito custo o ser humano abria um caminho no meio da mata cerrada e para o manter precisava ser diligente em usar o espaço conquistado se não o mato cobria tudo novamente, as enxurradas abriam valas na trilha e empoçavam criando atoleiros quase intransponíveis.

Depois, crescemos, nos multiplicamos e nos tornamos tantos que passamos a dominar a natureza, isto é, tentamos mantê-la longe de nossa casa. Mas na nossa memória mais primitiva ainda nos lembramos que foi ela que nos fez. A natureza é nossa mãe. Por milhões de anos as leis biológicas e físicas foram nos moldando. Devemos a vida, o prazer de desfrutar de um momento neste planeta, a ela, e ao nosso Pai o milagre da vida. É por isto que que viemos de longe e de perto para passar no meio da mata, para estarmos no útero de nossa mãe. (foto de JBosco)

Neste domingo, 12/10/2008, o apelo de fazer uma trilha no meio da mata Atlântica atraiu ciclistas do Rio de Janeiro, Volta Redonda, Barra Mansa e Resende. Os carros chegavam despejando homens e mulheres e bikes. Uma energia eletrizante dominava o ambiente. Velhas histórias eram lembradas e planos futuros eram revelados. Uma amizade sadia girava no meio daquelas pessoas que precisam estar em contato com a natureza usando a força de seus músculos para penetrá-la e procurando não ferí-la ou se a magoamos, fazendo o mínimo possível.

Mais de cinqüenta ciclistas saíram rapidinho do asfalto e entraram na mata. Riachos descem da serra de Itatiaia e cortam a trilha nos obrigando a carregar a bike nas costas. Quem disse que é fácil o contato com a natureza! Os picos das Agulhas Negras nos observavam do meio das nuvens. Subindo e descendo caminhos o nosso coração batia forte com o esforço e com a alegria do passeio. Atravessamos pontes com a água cristalina rolando por baixo desde tempos imemoriais.

Quando chegamos perto de Itatiaia um riacho de águas frias nos recebeu e paramos para um banho demorado. A natureza preparou estas belezas para serem desfrutadas pelos que se animam a sair de seu conforto artificial e vir ficar perto dela, como uma mãe que prepara a casa e faz um almoço caprichado para receber o filho que passa o tempo sem lhe visitar.

Falando em almoço preparado pela mãe natureza olha só a turma se abastecendo para continuar pedalando. Voltamos pelo asfalto, mas logo o deixamos de lado e enveredamos por outra trilha até chegar aos nossos carros que nos esperavam. Correndo para casa com as bikes pendurados no bagageiro já íamos planejando outras aventuras.

sexta-feira, outubro 10, 2008


Gosto muito do estalo que faz uma porteira batendo, o som se espalhando pelo pasto, rolando sobre o capinzal até se perder na distância. Pláááááá´. Não tem paredes para confiná-lo e a sensação de liberdade absoluta misturada com a de pequenez diante deste mundo grande, faz um bem enorme a alma da gente. Mas ontem à tarde, fazendo uma pedalada vespertina com mestre Dunga aprendi outra coisa sobre uma porteira.

Têm pessoas que são materialistas, descrentes sobre um outro mundo paralelo ao nosso com seres que vivem e têm sentimentos, alguns são muito elevados, tanto que se tornaram santos, seres iluminados, outros ainda estão presos a vida que levaram entre nós humanos e são egoístas e vingativos, são chamados de almas penadas ou exús. Dunga, muito espiritualista, me contou que nas encruzilhadas e porteira ficam encostados seres deste tipo e que é bom se pedir licença pra passar. Concordei na hora, mas decidi que além de solicitar permissão para atravessar para o outro lado do caminho também vou rogar o direito de deixar a porteira bater para escutar aquele estalo bom que purifica a minha alma mortal, plááááááá.

E isto tem que ser feito rapidinho, sem parar, porque o bom da pedalada é estar sempre em movimento, vendo o cinema da vida desfilar diante de nossos olhos. Bem, é verdade que às vezes há motivos fortes que nos fazem parar. Ontem, sai com Dunga, estava bastante frio e os companheiros que costumam pedalar à tarde, o Pedro e o Jorge, preferiram ficar debaixo do cobertor. Fomos para os lados de Pinheiral e depois seguimos à direita para Arrozal. Numa curva quase passamos sem ver um pássaro selvagem meio tonto na beira da estrada. Voltamos. Dunga, profundo conhecedor de plantas e bichos, chamou a ave de franguinho d'água. Do jeito que ele estava ia acabar atropelado e como o ciclista é acima de tudo um protetor das coisas de nosso mundo descemos das bikes e enquanto eu o pegava Dunga filmou este encontro do homem com um ser inferior a nós mas tão importante na continuação da vida na Terra.

Depois de deixá-lo na mata, longe do trânsito humano, seguimos para Arrozal e fizemos outra parada. É de lei alimentar o corpo que se exercita. Entramos na padaria do “seu” Chico, amigo de Dunga que aproveitou para me mostrar os fundos onde viram a massa e assam o pão, tudo na maior limpeza. Tomamos um café quente com um bolo tão macio que desmanchava na boca.

Demoramos mais do que o normal porque apareceu um desportista que o colega me apresentou, Hilton, que vai participar da meia maratona do Rio de Janeiro neste final de semana. Também é um homem do pedal, indo muitas vezes de Arrozal a Nova Iguaçu, onde também tem casa, e voltando. Ele nos convidou para participar de um passeio ciclística dia 19/10 em Nova Iguaçu subindo para o parque estadual do Tinguá. É uma coisa para pensar.
Mas como ciclista não pode ficar parado, a conversa estava boa, mas tivemos de retomar o caminho voltando para casa pela trilha da Melequinha. Até que não estava enlameada, apesar da chuva desses dias.

O dia nublado fez a tarde acabar mais cedo. Ainda não eram 18 horas e a escuridão já vinha chegando. O frio estava de raxar. Mas se tivesse ficado na cama quanta coisa teria perdido! Nesta vida temos de aproveitar cada minuto, não como se fosse o último, mas para ficarmos cada vez melhores e mais humanos. Não é?

quarta-feira, outubro 01, 2008


Hoje o passeio foi uma grande volta. Saindo da prefeitura de Volta Redonda seguimos para Pinheiral pela antiga linha de trem (passamos pelo túnel com o pessoal fazendo a maior gritaria), depois até Vargem Alegre de onde atravessamos para Dorândia e dali seguimos subindo até São José do Rio Preto onde almoçamos. Foi aquele grande companheirismo, os ciclistas hora conversando com um um ora com outro, os assuntos variando conforme o interesse dos que dialogam. (foto de JBosco)

Como nas sete horas de pedalada a gente fica bastante tempo sozinho pode se entregar a reflexão. Neste passeio passou pela minha cabeça um tema recorrente: o tempo. Primeiro pensei em como ele vai modificando a situação de cada um e fazendo que não se veja colegas que eram parceiros constantes das pedaladas. Há quanto tempo não pedalo com Dunga? Há quatro anos atrás encontar com ele e Manoel nas manhãs de domingo era tão certo quanto ver o sol levantando lá em baixo sobre o rio Paraiba. Agora, neste pedaço do tempo, tem ficado bem difícil vê-los. Disto tiro uma lição: enquanto dá o melhor é a gente aproveitar porque o tempo é danado para puxar o tapete da gente. Que vale que uns colegas vão e outros chegam, isto também é um efeito do tempo, que é curador de todas as feridas. (foto de JBosco)


Depois, o tempo desfilou por todo nosso percurso materializado em antigos prédios. Os colegas que vieram de Resende para nos acompanhar tiraram fotos da fazenda Confiança, perto do clube de campo dos Aposentados de Volta Redonda. Não encontrei informações sobre a data de construção, mas está caindo aos pedaços e reformada daria um belo hotel. Em Dorândia subi para a antiga praça do arraial e fotografamos a velha igreja de N. S. das Dores que ninguém soube dizer quando foi construída. Em um dos pontos altos do caminho para S. José do Turvo admiramos a fazenda Monte Santo, também mal cuidada. Subi a rampa de entrada, cheguei nos fundos quase até a cozinha e conversei com a dona da casa que não soube precisar a data da construção. Esses imóveis eram provas físicas do que o tempo vai fazendo com as coisas materiais, corrompendo-as, “tudo se transforma”, como disse Lavoisier.

(detalhe da foto do amigo Jorge, de Resende)

Por fim foi o tempo (sem dúvida também porque gosto muito de andar em trilha de boi e de estrada no meio da mata) que me fez deixar alguns colegas seguirem com Gideão para Amparo enquanto tomava o caminho pela fazenda Saint Gobain. Implico com a volta de Amparo para casa pelo asfalto. As três subidas que têm neste trecho depois de horas pedalando me aborrecem. A trilha da carvoaria, que percorri, tem raras subidas pequenas e economiza mais de meia hora. Não é nada não é nada é algum tempo. Não disse? Hoje o mote do passeio para mim foi o tempo, abstrato, mas um tremendo rolo compressor. Mas que jamais deixemos de parar para ver um detalhe da natureza por causa dele, do tempo. (detalhe de uma antiga foto de J.Bosco)