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sábado, agosto 15, 2009


Manoel Ricardo Simões é doutor em Geografia e mestre em Planejamento Urbano e morador de Nova Iguaçu; escreveu A Cidade Estilhaçada, onde estou aprendendo muito.
Há duzentos anos as terras de Iguassu incluíam quase toda baixada fluminense, então ela explodiu em vários municípios: Itaguaí, Queimados, Mesquita, Nilópolis, São João de Meriti, Belford Roxo e Nova Iguaçu. Porque um território se estilhaça desta maneira?
Achei o tema importante porque onde vivo, Volta Redonda, já foi parte de Barra Mansa, como Quatis e Pinheiral também. Quais são os mecanismo que levam ao desmembramento?
Primeiro ele ensina como um sertão se torna um lugar, que é “'uma delimitação espacial restrita vinculada à ocorrência de fenômenos pertinentes à vida cotidiana e ao convívio pessoal’”. Ele é parte de um território que se torna peculiar para nós “agregando elementos paisagísticos, históricos e naturais”. O nosso “pedaço” “’é um tipo especial de espaço que fica entre o universo íntimo de nossa casa e o mundo público da vizinhança. São sentimentos e valores compartilhados por vizinhos... fornecendo para as pessoas uma identidade e uma referência grupal, uma idéia de nós”.

O começo de um lugar nunca é fácil, “é a partir de carências e do não atendimento que se estabelece um ‘desconforto criador’”. Um novo lugar “é o teatro de uma nova ação por ser, ao mesmo tempo, futuro imediato e passado imediato, um presente ao mesmo tempo concluído e inconcluso, num processo sempre renovado”. Assim surge um país, município, um lugarejo ou um bairro.
Mas o lugar é mais do que um espaço físico, ele tem uma identidade. Todo ser vivo tem “necessidade de negar semelhança com algo ou alguém. Sempre haverá um nós e um eles, eu tenho que dizer que sou para me diferenciar daquilo que não sou”. Também é “inato e inerente ao ser humano a necessidade de fazer parte de algo que nos dê um sentido ou nos represente”. A identidade do lugar que vivemos “é construída através da linguagem criando um conjunto de informações da história, geografia, biologia e sociologia” daquilo que antes era apenas um sertão. É preciso uma base, “um mito fundacional, a invenção de uma tradição e a eliminação” da importância das diferenças de quem vive naquele espaço, “através do simbolismo de um povo puro e especial”.

Volta Redonda, surgiu assim. Até hoje se conta a lenda de que siderúrgica pronta os engenheiros mandaram um telegrama para Minas Gerais pedindo a primeira carga de minério, mas uma providencial troca de palavras formou o povo voltaredondense: “Mande um trem cheio de mineiros”. Bem, uma gente assim, escolhida, não podia ser parte de Barra Mansa e a emancipação aconteceu.
Um novo lugar também pode surgir dentro de uma cidade e de um município que já existe. Quando parte da gente de um lugar “se dá conta de que está numa condição de dominado por ter sido diferenciado no processo de formação da identidade do município... e que nesta situação de inferioridade sofre pressão da ordem dominante para contribuir sem receber contrapartidas consideradas necessárias... há uma ruptura com a identidade principal e começa uma luta política em torno de ideais e princípios comuns aos excluídos”.
Então acontece um plebiscito, um desmembramento e surge um novo lugar, talvez aquele em quem vivemos e que se torna o único lugar no mundo em que podemos viver felizes. Aprendi isto com o professor Manoel.

Um comentário:

Clarice Porto Medeiros disse...

Olá,

Estou iniciando uma pesquisa sobre a formação de Volta Redonda, para utilizar em minha monografia que tratará da identidade cultural do Voltaredondense, questionando entre outras coisas, a relação com a cultura mineira.
Aqui no Rio está difícil encontrar material, na internet também.
Nas minhas folgas irei à cidade para pesquisar.
Imagino que você tenha interesse pelo tema e já tenha lido textos que podem me ajudar, por isso, peço que me faça indicações do que achar válido.

Grata,

Ludmila Santos

milaprocult@yahoo.com.br