Quem tem filha precisa levar em conta que fatalmente terá um
genro, que até pode ser surfista e petista. Ô sina!
Muito inteligente meu genro lê coisas
e me manda, como quem leva celular para um presidiário. Desta vez foi Crise e
Alucinose: Anticomunismo do Nada, do psicanalista e escritor Tales Ab’Sáber,
tive de ler.
De cara gostei dessa frase: “nossa saída da ditadura militar não implicou
numa profunda democratização [acho que melhor teria sido ele dizer desconstrução] da mentalidade autoritária brasileira”.
Isto aconteceu porque “a Lei de Anistia – situação concreta excêntrica do
impedimento do direito da democracia de julgar a ditadura – foi o direito mais
forte da ditadura de tutelar a democracia que renascia”. Quer dizere, não conseguimos
sacudir de cima do lombo, até hoje, o domínio da ditadura. “Passados 26 anos o
Brasil foi finalmente obrigado a instalar a tímida Comissão Nacional da Verdade
sobre sua ditadura”. Só bati palmas, até aqui.
Tales faz uma grave denúncia sobre eu e você: “existe a
sustentação de uma política corrente contra os direitos humanos no Brasil, ela
é constante entre nós”. E diz de onde vem: “Ela se origina, em um nível
histórico, na necessidade de legitimar a ação criminosa de agentes públicos”. E
vem de mais longe: “na longuíssima tradição de concentração de poder dos
trezentos anos coloniais de escravidão... o negativo de qualquer possibilidade
de existência de direitos humanos para bandidos no Brasil”. Diz se não é
verdade que a gente está se lixando para os desgraçados que matam pessoas por
dinheiro? Até esse ponto continuei concordando com ele.
Então, Tales dá um salto-triplo-sem-rede e diz: “Ela tem
correspondência com uma outra posição [do brasileiro], nas manifestações pelo
impeachment da Presidente Dilma”.
– Que que uma coisa tem a ver com a outra,
Zé?
Ele diz: “Esse discurso muito acentuado nas manifestações das ruas tem a ver com a ideia de que o
governo petista, além de ladrões consumados e um câncer, transformaram o Brasil
na Venezuela”.
– E não é isso mesmo, Zé?
Tales dá um espetacular cavalo-de-pau:
“Diante das distâncias impressionantes destas enunciações de alguma realidade
das coisas políticas brasileiras...”. Penso – aliás é um consenso geral – que todo
psicanalista não “bate bem”, Tales parece que mora no reino da Dinamarca e não
lê o que se passa nesta província tupiniquim. Então, do alto de seu saber
decreta que todo povo brasileiro, menos os 5% petistas que restam, sofre de “alucinose:
uma distorção efetiva da capacidade de pensar fundada na necessidade de saturar a
realidade com desejos que não suportam a frustração”.
– Isso é profundo, Zé!
Isso é merda-em-pó! O cara tá dizendo que o desejo meu e seu de ser governado
por gente que ame o Brasil é uma vontade irreal que só vai nos levar a
frustração. Aliás, nesse sentido – o de que nunca vamos colocar no governo um
sujeito honesto que não queira se locupletar às nossas custas - temos mesmo um sonho
irreal. Depois, Tales desfia as repetidas benesses que o petismo nos deu, algo
nunca antes visto nestas plagas.
Vou resumir o que penso do artigo de Tales,
para ele e para meu genro: Petista quando não caga na entrada caga na saída.
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