Em 31/12/1982 eu e Lili trocamos livros. Ela me deu um livro
de psicologia, achando que minha cabeça não estava muito boa, e dei a ela um
romance, Ninotchka, do escritor russo Heinz G Konsalik, tentando fazê-la mais suave e menos exigente. Agora,
viajando para Barbacena e voltando li-o todo. A história fala dos oficiais
militares e nobres que foram deportados para a Sibéria quando de uma revolta
deles contra o Czar. Tudo instigado pela Revolução Francesa, era 1825. Foram
condenados à 20 anos na Sibéria. Uma pessoa que teve um irmão condenado àquela
região disse (p. 49): “Irmãozinhos, a taiga é um inferno. Deus criou a Sibéria
para castigar a humanidade. Quem foi mandado para lá, é preferível que se
enforque”. Mas os revoltosos foram levados e o mais impressionante da história,
suas esposas resolveram acompanha-los ao desterro. Foi uma viagem pavorosa no
inverno, com neve se acumulando na altura das casas. Mas chegaram ao
acampamento perdido bem longe, depois das montanhas Urais. E o que viram ao
chegar lá (p.148)?
“O rio Olekma corria largo e lento, com a água clara e pura
apinhado de peixes. Cervos pastavam na planície verde e martas e arminhos
povoavam as florestas. Nas corredeiras os salmões longos e gordos saltavam
entre as pedras. O general Globonov disse, arrebatado: E a Europa tem medo
disso. Quem é que tem saudades daquele monte de edifícios que é São
Petersburgo? Quem deseja voltar para suas poltronas? Eu é que não!”
Assim foi comigo. Cheguei às cinco horas da manhã na
rodoviária de Barbacena, troquei de roupa no sanitário, montei em minha bike e
saí pedalando pela cidade que dormia.
Subi até a praça central com as sombras
da noite se dissipando
e desci para o distrito de Campolide
procurando uma
estrada de chão com suas belezas da roça.
Um dia ainda sou capaz de ir pedalar lá na Sibéria.
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